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480 itens encontrados para ""

  • O amor na Primeira Carta de São João

    A Igreja no Brasil reza, reflete e contempla neste mês de setembro (mês da Bíblia) a Primeira Carta de São João. Com o projeto denominado: “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema: “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (1 Jo 4,19). Quando olhamos o todo do texto da primeira Carta de São João, transparece um conflito interno. O conflito desta comunidade cristã está na diversidade de opiniões sobre a pessoa de Jesus Cristo. Um grupo achava que o Verbo estabelecia um padrão moral para atuar na vida do dia-a-dia. E o outro grupo (denominado separatistas) apenas acreditava no Verbo, sem consequência prática. Nesta primeira carta de São João existem várias qualidades denominadas para Deus, como por exemplo: Deus é luz (1 Jo 1,5 – 2,27). Também apresenta a pessoa de Jesus, como o justo (1 Jo 4,2). Já na terceira parte da Primeira Carta de São João (1 Jo 4,7 – 5,12) apresenta que Deus é amor. Lembrando que a segunda seccão do texto (1 Jo 2,28 – 4,6) nos recorda que o ser humano que pratica a justiça é de Deus. Dessa maneira, o tema de Deus é amor é muito semelhante ao tema Deus é luz. Pois, quem diz que ama a Deus e não ama os seus irmãos e irmãs são mentirosos (1 Jo 4, 7 – 21). O autor da carta reforça a ideia que todo aquele que nasceu de Deus, ama o seu irmão e sua irmã. Também Deus teve a iniciativa do amor com o ser humano. E por causa, deste amor do Criador com a criatura, nós (seres humanos) podemos amar as pessoas com a mesma intenção do amor de Deus. “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus, porque Deus é amor (1 Jo 4, 7). Conhecer a Deus é praticar a virtude do amor. Dessa forma, o conhecimento de Deus não é algo teórico e fechado em um “escritório”, porém é uma experiência vivencial do cotidiano dos discípulos-missionários de Jesus Cristo. As consequências do amor são: a espiritualidade, a solidariedade, a paz, a alegria, a ternura, a misericórdia, a bondade, a mansidão, a misericórdia e o perdão. Portanto, sejamos instrumentos do amor de Deus, pois Deus nos amou por primeiro. E Deus quer que sejamos luzes na vida das pessoas, levando o amor de Deus, pois “todo aquele que ama nasceu de Deus” (1 Jo 4,7). Frei Tiago Frey, OFM

  • A PROVÍNCIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS E SUA NOVA ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL

    SECRETARIADO DE ADMINISTRAÇÃO Vou apresentar aqui pouco da história da nova constituição da Província São Francisco de Assis no Brasil (PSFAB), como ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA (OR), em entidade jurídica com estatutos civis próprios e expressos em conformidade com seu carisma. Apresento o que torna possível e conveniente este passo, a finalidade dessa nova constituição e sua importância para a vida e missão e sustentabilidade da PSFAB no momento presente. A criação da entidade PSFAB como OR, apoiada na legislação nacional que passou a prever esse tipo de natureza jurídica, está baseada na Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2003. Com essa lei consolidou-se o entendimento de que as organizações religiosas, constituídas sob o manto confessional, são portadoras de um direito próprio que regula e disciplina sua vida, organização e atividades. Tal entendimento, pertinente às obras confessionais e às organizações pertencentes à Igreja Católica Apostólica Romana, foi ratificado pelo acordo firmado entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, em 13 de novembro de 2008, em Roma. Esse acordo foi aprovado pelo Congresso Nacional e regulamentado pelo Decreto Federal nº 7.107, de 11 de fevereiro de 2010, em conformidade com as normas de Direito Constitucional, Direito Canônico, Direito Civil, Direito Tributário e as demais normas do Direito. Diante do exposto, os frades iniciaram processo de discussão do tema, coordenado pelo Conselho administrativo da Província, tomaram a decisão de criar a OR – PSFAB e tornaram o tema, pela sua relevância e conveniência, tema do pf. Capítulo provincial no qual serão votadas a Minuta da OR – PSFAB e a Minuta de Alteração dos Estatutos Sociais do Instituto Cultural São Francisco de Assis (ICSFA), atual natureza ou pessoa jurídica da Província. Para tanto, foi contratada consultoria especializada que, após estudo e análise da atual organização institucional da Província, apresentou o seu relatório e ajudou na elaboração das referidas Minutas. Essas já refletidas e estudadas por todos os frades. Essa nova organização institucional da PSFAB está vinculada à alteração dos Estatutos Sociais do ICSFA e à sua Cisão, ou seja, à transferência de parte do patrimônio do ICSFA para a nova OR – PSFAB. Isso merece outro artigo! Frei Marino Pedro Rhoden

  • ENCONTRO DOS EX-SEMINARISTAS ACONTECE DOMINGO

    No dia 29 de setembro de 2019, no Convento São Boaventura, em Daltro Filho - Imigrante - RS, acontecerá o Encontro Anual dos Ex-Seminaristas Franciscanos. Acolhida às 9h e logo após, na Capela do Convento, com início às 10h a celebração eucarística. Ao meio-dia almoço de confraternização e momento de convivência. Venha! Participe e prestigie algo que é NOSSO. Traga a sua família. Convide um amigo; colega de sua época. Dia do Encontro....com os amigos; com o Convento. Dia para vivenciar a Alegria Franciscana! Confirme seu presença pelo telefone (51) 37542021 e 37540376 (com Roberta - secretária do Convento), no horário das 7h30min às 11h30min e das 13h às 17h de segunda à sexta-feira e/ou com Aloísio Bremm pelo telefone/whats (51) 984836746. Aos que forem na véspera, favor realizar reserva para a hospedagem no Convento.

  • O RICO GLUTÃO E O POBRE LÁZARO

    PISTAS HOMILÉTICO-FRANCISCANAS - 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C Leituras: Am 6,1ª.4-7; Sl 145; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31 Tema-Mensagem: Enquanto o rico glutão se afoga na avidez dos bens que o Senhor lhe dá de presente afundando-se cada vez mais nas profundezas do inferno do seu isolamento, o pobre Lázaro mendiga a salvação de Deus que o leva para o paraíso da comunhão de Abraão e de seus descendentes. Sentimento: compaixão Introdução Neste Domingo, o ensinamento de Jesus nos vem através da famosa parábola do rico glutão e do pobre Lázaro. 1. O destino e o sofrimento dos que não se preocupam com a ruína do próximo (Am 6,1ª.4-7) Novamente, como no domingo passado, o vaqueiro e plantador de sicômoros, Amós, transformado em profeta pelo Senhor, é quem nos introduz na celebração do mistério de hoje. O trecho é tirado do último capítulo da segunda parte de sua profecia. As vitórias de Jeroboão (2Rs 14,25) haviam proporcionado não apenas o enriquecimento, o luxo e o conforto da classe dominante, mas também, despertado o vício da ganância e da soberba que, por sua vez, os levara à exploração em cima dos pequenos agricultores e marginalizados das cidades. Se no primeiro capítulo o discurso é contra povos pagãos (Damasco, Gaza, Tiro, etc.), agora é contra os maiorias do povo, responsáveis pela situação do momento que é de iminente queda. Por isso, se lá era uma fala de pura condenação, aqui é de um misto de condenação e de dor. Por isso, começa com um “Ai!”. “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas da Samaria” (Am 6,1). Amós, não podia deixar de condenar os que buscavam segurança “nas alturas da Samaria”, isto é, na adoração dos ídolos pagãos, o pior de todas as decadências, porque atingia a raiz de sua identidade. Em vez de Povo de Deus – pertencente a Deus - estavam se tornando povo dos ídolos – pertencente aos ídolos - semelhante aos povos pagãos. Mas, também não podia deixar de condenar outras decadências, também muito graves porque ofendiam o caráter comunitário-social de sua identidade de Povo de Deus, de irmãos. Pois, como podiam alguns: “dormir em camas de marfim, deitar-se em almofadas...”, etc., como podiam viver tão tranquilos, sem se preocupar com “a ruina de José!?”, isto é do povo, da grande comunidade de irmãos?! Enfim, o luxo e o conforto de uns representava a exploração e a miséria da maioria. Como já o dissera anteriormente: “vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sandálias ... pai e filho vão à mesma jovem, profanando meu santo nome” (Am 2,6-7). Por outro lado, a dor é dupla. Primeiramente por causa dos sofrimentos que esta injustiça impinge sobre a grande maioria do povo que tem de viver, muitas vezes, sem o mínimo necessário para satisfazer as necessidades básicas do corpo como o vestir, e o comer e mesmo do espírito, privados, assim, da participação do verdadeiro culto ao seu Deus, vivo e verdadeiro. Mas, a dor do profeta nasce também por causa do destino final dos próprios responsáveis desta iminente catástrofe social e religiosa. Pois, por causa do pecado desta sua falta de sensibilidade social e religiosa “irão para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito” (Am 6, 7). 2. Combater o bom combate da fé e guardar íntegro e sem mancha o mandato do Senhor (1Tm 6,11-16) A segunda leitura, tirada da Primeira Carta de Paulo a Timóteo, faz parte das assim chamadas Cartas pastorais. Ou seja, neste pequeno trecho encontramos instruções e orientações muito precisas e preciosas acerca do reto desempenho da função dos pastores, no caso Timóteo e, consequentemente, de todos os fiéis. Ou seja, temos aqui um belo texto que nos diz como devemos cuidar, pastorear o precioso tesouro da vida de Cristo, a vida de Deus. Por isso, Paulo começa apontando para Timóteo a raiz de todas as suas exortações: “Tu que és homem de Deus...”. Há, pois em Timóteo, bem como em todo cristão um genes que nos distingue, separa e põe em contradição com os outros homens que possuem e vivem a partir do genes do mundo. É movido por este genes que o homem de Deus “foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão” (1Tm 6,1). Não é a primeira vez, nem será a última que Paulo expressa esta exortação que orientou e conduziu toda a sua vida (Cf. 1Tm 1,18-19; 2Tm 4,6-8). Em verdade ele está repetindo e retomando um dos princípios básicos para poder entrar e perseverar no Reino de Deus, proclamado por Jesus Cristo: ‘Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas a espada’” (Mt 10,34). Paulo como Jesus não está recomendando, evidentemente, a que nós cristãos recorramos às armas ou a qualquer outro tipo de agressão contra possíveis inimigos externos à nossa fé. Os que de fora combatem nossa fé, em verdade não são inimigos, mas amigos. Nossos inimigos são os que agem dentro de nós e que hoje, nosso Papa gosta de denomina-los com esta expressiva qualificação: ”Mundanismo espiritual”. Ele mesmo enumera alguns destes inimigos: os que em vez da glória de Deus, buscam mais a glória humana e o bem estar pessoal e buscam o comodismo, a acídia, o poder e o domínio sobre os outros e sobre os espaços da Igreja ou da Comunidade. Ao falar em combate, Paulo está dizendo que o Evangelho requer uma tomada de decisão, uma ruptura e mudança de vida radical, primeiramente dentro da própria pessoa e depois a tudo que está a seu redor. São Freancisco expressa esta experiência quando testemunha em seu Testamento que enquanto vivia seguindo os princípios da grandeza do mundo era-lhe amargo ver leprosos. Quando porém foi levado pelo Senhor para o meio deles, o que lhe era amargos se tornou doçura da alma e do corpo. Em seguida vem as rupturas exteriores: divisões na família, no trabalho e em todos os setores da vida do cristão. Francisco chegou a ser perseguido pelo próprio pai que o colocou na prisão por meses a fio¸ levou-o à juízo perante as autoridades civis e perante o próprio Bispo de Assis. Segundo o Evangelho, do começo ao fim, o cristão deve lutar é pela paz e jamais pegar em armas para defender seus direitos e os direitos de Deus. Por isso será, muitas vezes rejeitado e perseguido e levado à morte. Este é o bom combate porque só nasce do bem e só leva ao bem. O outro, que nasce das armas e da contenda é o mau combate porque nasce do mal e só leva ao mal. Por isso, Paulo termina exortando Timóteo: “guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tm6,14). Ora, qual é este mandato senão aquele eu Jesus entregou na Última Ceia: “amar como Deus ama, também e principalmente os inimigos”. Quem mais tarde deu um bela interpretação acerca deste modo de combater foi São Francisco que classificou a si e a seus companheiros como uma Ordem, um exército de cavaleiros, de lutadores cuja única arma era a Cruz de seu único Senhor Jesus Cristo crucificado. Não se trata, portanto, de heróis que buscam seu engrandecimento, muitas vezes derrotando ou derrubando os demais. São lutadores, sim, cavaleiros que, a exemplo de São Francisco, labutam a modo da nossa irmã e mãe terra. A terra não grita a modo de drama, em vivências espetaculares, nem de profundidade trágica de uma autenticidade autoconsciente de si. É, antes, sóbria, simples e modesta. Não, porém, resignada, mole, passiva e neutra. É tenaz, sim, dura e exigente. Mas, não “durona”, pedante ou moralizante. É disciplinada, trabalhadora, insistente. E, no entanto, não é fascista, estafante, fanática (FF pág. 905). 3. O caminho do avarento glutão e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31) Como no domingo passado, com a parábola do Administrador Desonesto, também hoje e de novo, através de outra parábola, a do rico glutão e do pobre Lázaro, somos levados a celebrar o mistério do sentido dos bens deste mundo, isto é, como devemos nos relacionar com os bens com os quais o Senhor nos presenteia de modo tão belo e abundante. 3.1. O rico Em verdade, o rico da parábola de hoje contraria completamente a lição da parábola do administrador desonesto porque não soube ou não quis usar dos bens deste mundo para fazer amigos (Cf. Lc 16,9). Em vez de servir a Deus, seu senhor, na pessoa do pobre, quis e preferiu servir tão só e avidamente a si mesmo. Por isso o destino dele será “a região dos mortos”. A parábola nos alerta sobre: - o uso egoísta e abusivo das riquezas; - o modo indiferente e desprezível de se tratar o próximo; - a figura do pobre e mendigo que vive ao nosso lado. Na abertura se diz que Jesus estava falando para fariseus, líderes religiosos que haviam se adonado da religião a fim de satisfazer os mais variados e espúrios desejos e cobiças pessoais. Em vez de servir a Deus serviam-se da religião e das práticas religiosas para se aturo-promoverem tanto social, econômica como religiosamente. Gabavam-se de uma pretensa e falsa pureza e fidelidade religiosa e espiritual. E, consequentemente, desprezavam os demais como pecadores e não observantes da lei. Chegavam a chamar os pagãos de impuros e de qualificá-los com a baixa denominação de “cães”. No meio de uma farta mesa de bens materiais e de uma falsa riqueza ou acúmulo de bens espirituais, participando de festas e banquetes diários, aquele rico era a ostentação do mais puro mundanismo de um homem tomado pela mais vergonhosa falta de gratidão e sensibilidade e de um coração dominado pelo egoísmo, pela sede de ostentação e de avareza. Ele viveu de forma luxuosa, e sem dúvida seu sepultamento fez jus à sua importância. Mas, após a morte foi para um lugar de tormento, denominado de inferno, no grego hades. Pela descrição da cena a essência desse tormento não é outro senão o isolamento de Deus e de todos os seus santos, representados aqui por Abrão e todos os seus descendentes. A dureza de coração, a impiedade deste rico é tamanha que nem mesmo após a morte e em meio aos mais dolorosos tormentos de solidão se converte. Em relação a Deus e sua palavra permanece surdo. E assim em vez de reconhecer sua soberania e pedir humildemente perdão continua obstinado em seu egocentrismo. Primeiramente, implora a Abrão que mande Lázaro molhar o dedo na água e com ela refrescasse sua língua. Para ele, Lázaro continua sendo apenas um empregado, objeto de uso e não um irmão. E ato contínuo, pede-lhe que mande mensageiros à casa de seu pai para fazer com que seus cinco irmãos se arrependessem. Era de coração tão empedernido que nem os tormentos do inferno conseguiram mover-lhe o coração de sua avareza egocêntrica. Provou, portanto do quanto ele negligenciou a Palavra de Deus, do quanto não amou a Deus sobre todas as coisas, muito menos seu próximo como a si mesmo. 3.2. Lázaro O segundo personagem da parábola, ao contrário do rico, tem nome: Lázaro. Em hebraico Lázaro ou Eleazar, significa “Deus tem socorrido” ou “Deus ajuda”. Ao contrário do rico glutão, Lázaro é, aqui, o protótipo do homem que deposita toda a sua confiança em Deus e não em seus bens materiais ou méritos espirituais. Como aquele rico, Lázaro também morreu. Mas, ao contrário do rico, era tão pobre que nada se diz de seu sepultamento, Ele não recebeu nenhuma honra terrena, nem mesmo de maneira póstuma. Todavia, algo muito mais importante e glorioso do que isto é dito sobre seu destino: foi levado pelos anjos para o seio, a companhia de Abraão no Paraíso. O contraste impressiona. Enquanto o mendigo, aqui na terra era rejeitado e desejava comer migalhas e tinha por companhia os cães, que lhe lambiam as feridas e agora estava no céu, reclinado à mesa celestial juntamente com Abraão (cf. Mateus 8:11), o pai de todos os crentes (Rm 4:11), o rico ardia em meio as chamas do inferno. Além do mais, não podemos deixar de notar outro contraste com o rico. Enquanto este, desesperado, se desdobrava em inúmeras suplicas, em Lázaro impera o silêncio. Nenhuma palavra saiu de sua boca, nem enquanto estava vivo, nem mesmo após a morte. Além do mais e também, ao contrário do rico, Lázaro em nenhum momento precisou de qualquer auto-justificação. Devemos notar, porém que o rico é condenado não por ser rico, mas porque não soube assumir a vida como ela é: um dom. E mais ainda, um dom que, como tal, deve ser posta à serviço dos outros, principalmente dos pobres mendigos que estão ao redor de sua mesa. A riqueza torna-se ocasião de pecado quando, o homem levado pelo vício da avareza, fecha o coração à solidariedade, à comunhão, impedindo que ela realize sua função: satisfazer as necessidades básicas de todos os homens, principalmente dos mais necessitados e marginalizados. Cria-se então o inferno da divisão, da separação. Da mesma forma, o pobre é enaltecido não por ser pobre, mas por pôr sua confiança em Deus deixando-se guiar pela força de seu amor e de sua graça. Foi esse o testemunho de Abrão. Sendo muito rico, não se vangloriou de sua riqueza, mas atribui-a toda a Deus a quem se confiara e submetera inteiramente, a ponto de sacrificar-lhe o próprio filho. Cai por terra, assim e também, a vanglória dos fariseus que julgavam, pensavam que podiam se auto-justificar pelo merecimento de suas práticas religiosas. Finalmente pode-se ainda acrescentar esta lição: o tempo da salvação é este que nos é dado aqui na terra. É aqui e agora que nos é ofertada a graça de fazermos a vontade de Deus, isto é, de fazermos frutificar os bens que nos concede segundo seu desígnio. A morte sela definitivamente nossas escolhas. O pobre que morre entregue à confiança do Senhor continuará sendo acolhido pelo amor misericordioso de Deus. Já o rico avarento que morre obstinado na sua própria escolha: no deleite de sua auto-justificação continuará sofrendo o tormento do interno da ausência de Deus e dos irmãos. Dizíamos acima que a parábola tem um endereço certo: os fariseus representados perlo personagem do rico avarento. Mas, entre as linhas pode-se ler com muita clareza o protagonista de toda esta parábola: no pobre Lázaro está o pobre Servo de Javé, Jesus Cristo crucificado. Tudo que se diz na parábola acerca de Lázaro foi vivido por Jesus. Como Lázaro também ele teve de mendigar o pão do amor na acolhida dos homens; também Ele foi rejeitado, afastado da companhia dos maiorais deste mundo; também ele foi amado pelos “cães” da época, os pagãos e marginalizados da religião; também morreu e foi enterrado sem nenhuma referência. Mas, finalmente, como Lázaro, também Ele após sua morte, foi levado para junto do Pai onde vive na companhia de todos os santos e amados de Deus. Conclusão Diante das leituras de hoje algumas conclusões merecem nossa atenção. Primeiramente, devemos considerar que pobreza e riqueza formam como que um dueto que atravessa toda a história e todos os povos da humanidade. Por causa desta dualidade nasceram divisões, brigas e se fizeram guerras e matanças incontáveis. Para a solução deste conflito só há um caminho: o indicado e introduzido no coração do homem pelo próprio Filho dom Homem que “sendo rico se fez pobre” (2Cor 8,9). Desde então, a Igreja, para saber se está sendo fiel à sua vocação e missão, sempre, desde os Apóstolos, recorre a este princípio: não esquecer jamais os pobres (Cf. Gl 2,10). Este compromisso, porém, diz nosso Papa não se identifica e nem se limita apenas a ações que visam promover o pobre, mas acima de tudo em amá-lo, estimá-lo “considerando-o como um só consigo mesmo” (EG 199). Infelizmente, diz ainda o papa, às vezes somos duros de coração e de mente. Extasiados pelos ídolos do consumo e do bem estar fácil e vão esquecemos este princípio básico para a construção de uma sociedade solidária (Cf. EG 196). O que a parábola condena não é o banquete, a festa e nem mesmo a riqueza mas que estes sejam buscados somente para si; condena a ostentação, a avareza que impedem e afastam as pessoas da alegria do encontro, do convívio, principalmente com os amados de Deus, os pobres. Em segundo lugar, devemos considerar, também, que mais detestável que a avareza e a ostentação no vestir, no comer é a avareza e a ostentação daqueles que buscam Deus e a prática da religião para orgulhosamente e de modo vão se ufanar perante si mesmos, perante Deus e os outros como puros, santos e salvos. Enfim, a parábola gira em torno das consequências de quem coloca o sentido e a felicidade de sua vida apenas no prazer dos bens e das riquezas deste mundo. Seu destino será o inferno, isto é, a tristeza de um coração comodista e mesquinho que o isola da comunhão com os outros e com o próprio Deus. Em contraposição o pobre – Lázaro, o Servo de Javé – que se confia nas esmolas e na ajuda de Deus se verá cumulado da graça da comunhão e do convívio com o próprio Deus e com toda a descendência do pai Abrão. Fraternalmente, Marco Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini

  • Frei Luis Fernando participa de atividades da Pastoral do Surdo do RS

    Frei Luís Fernando Tavares OFM, assessor da Pastoral do Surdo (PS), está em terras gaúchas participando de algumas atividades ligadas a um projeto comum da Pastoral dos Surdos do RS, RR e AM. No dia 14 de setembro aconteceu em Horizontina a Assembleia Eletiva da Pastoral do Surdo do RS. No dia 21 aconteceu, na Igreja São Francisco de Porto Alegre, com a participação da PS de Porto Alegre. A participação dos surdos nesta missa estava ligada as atividades em vista do Dia do Surdo que será comemorado no próximo dia 26 de setembro. Neste dia haverá uma missa comemorativa na Paróquia Santo Antônio do Partenon com batizado e 1ª eucaristia de adolescentes surdos. Dentro deste projeto, Frei Luis Fernando que mora em Roraima, também acompanhou 06 surdos venezuelanos que foram acolhidos aqui em Porto Alegre.

  • A IGREJA ENCONTRA FORÇAS NA FRAQUEZA

    COMO SUPERAR UMA PASTORAL DE CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO Vivemos em uma Igreja com um viés conservador muito forte e que hoje exige de nós a superação de uma pastoral de conservação ou de simples manutenção. Para que isto se torne realidade devemos começar nos propondo a uma abertura que conduz para a conversão, pois a superação exige abertura para o outro, exige disposição de caminhar, de se encantar pelo Reino de Deus, de ser profeta que saiba anunciar o que já recebeu do próprio Deus. A tarefa de proclamar e realizar a Boa-Nova constitui o objetivo da evangelização e é a nós confiada pelo próprio Cristo. Todo sentido da Igreja, é estar à serviço da implantação do Reino de Deus, e enquanto Igreja implica na participação de todos, na descentralização, no dialogo, no serviço, em especial aos mais pobres e marginalizados. No entanto para que isso aconteça se faz necessária uma profunda sensibilidade humana, sensibilidade esta que vai ao encontro de outras cultuas, de novas formas de compreender e celebrar a vida. Como nos diz o Papa Francisco na Evangelii Gaudium (EG): “Sair da própria comodidade e ter coragem de alcançar todas as periferias que precisam da Luz do Evangelho” (EG 20) Percebemos também no mundo em que vivemos a necessidade de um processo constante de inculturação, pois vivemos um momento de ruptura entre a cultura e o Evangelho. Desta forma, necessitamos anunciar o Evangelho de modo inteligível à mentalidade de quem acolhe o anúncio. Para que possamos nos fazer presentes de forma qualificada na sociedade em que vivemos, necessitamos de pessoas bem formadas, que se tornem sujeitos da caminhada, capazes de responder pela própria Igreja em seus lugares de trabalho, nos mais diversos campos de nossa sociedade, auxiliando também no processo de superação do clericalismo. Além disso, sujeitos que saibam tomar a iniciativa, especialmente a partir da misericórdia, que conduzam para a caridade, para ações que libertam e promovem a vida, para um alto índice de missionariedade em nossas comunidades. Somente diante de uma Igreja onde cada batizado se torna sujeito, seremos capazes de retomar o profetismo, diante de uma sociedade onde o neoliberalismo e o consumismo se alimentam do sangue do ser humano. Porém, diante de tantos desafios a nós apresentados, percebemos momentos de alegria, de profetismo, vindo de pessoas que na sua simplicidade e profundidade se doam, e revelam o amor que receberam de Deus as demais, tornando-se assim verdadeiros e verdadeiras discípulos(as), missionários(as) de Jesus Cristo, com “cheiro de ovelhas” (EG 24). Diante disto, somos chamados(as) a celebrar, a festejar, pois Deus continua agindo em meio ao nosso povo e os convidando a perceber os sinais do Reino já presentes em nosso meio. Reafirmamos a necessidade de uma Igreja aberta ao diálogo com o diferente, com outras culturas... com outas maneiras de viver e compreender a realidade, na certeza de que juntos somos mais fortes, pois sempre temos algo a aprender do outro e algo a oferecer de nós mesmos. Frei Armando Mariani, ofm

  • Missões Franciscanas da Juventude 2020 acontecerão na Paróquia São José de Taquari e Tabai

    A 4ª edição das Missões Franciscanas da Juventude já tem sede e será a paróquia São José de Taquari. Além do município de Taquari a paróquia também abrange o município de Tabaí. Nesta paróquia aconteceu a 4ª Jornada de Formação Franciscana das Juventudes em 2014. A paróquia São José tem 27 comunidades e bastante conhecida na região do Vale do Taquari por abrigar o Santuário da Assunção, onde em agosto, acolhe milhares de romeiros devotos de Nossa Senhora. Ao ser consultado sobre a possibilidade da paróquia sediar a próxima edição das Missões Franciscanas da Juventude, o pároco Frei Gastão Zart, disse: “O que eu mais quero e desejo. Que a próxima missão aconteça em Taquari e Tabai. Fico rezando nessa intenção.” Para Maria de Fátima, missionária de Taquari em Rio Grande, a expectativa é de que as MFJ "mova e desacomode as juventudes e lideranças das comunidades para que possam ir ao encontro dos mais necessitados". As MFJ 2020 ainda não tem data marcada, mas provavelmente, acontecerão no 2º Semestre de 2020. Desde já agradecemos a acolhida do povo de Taquari e Tabai em acolher as nossas juventudes. Paz e Bem!

  • Cerca de 250 missionários participaram das Missões Franciscanas da Juventude em Rio Grande

    Nos dias 21 e 22 de setembro aconteceram na Rede de Comunidades São Lucas em Rio Grande a 3ª edição das Missões Franciscanas da Juventude (MFJ) promovida pela Gurizada Franciscana. Esta edição contou com a participação de cerca de 250 missionários internos (lideranças e voluntários locais) e externos (inscritos de fora da Rede de Comunidades). Os 142 missionários externos vieram de Agudo, Cachoeira do Sul, Candiota, Curitiba, Gravataí, Independência, Horizontina, Hulha Negra, Lajeado, Paraíso do Sul, Porto Alegre, Novo Cabrais, Rio de Janeiro, São José do Inhacorá, Soledade, Tabaí, Taquari, Três Passos e outras paróquias de Rio Grande. No sábado pela manhã os missionários foram acolhidos pela juventude de Rio Grande e após a mística de abertura os Freis Paulo Maia e José Frey apresentaram a um pouco da realidade eclesial e social de Rio Grande. As lideranças da Rede de Comunidades ajudaram a recordar a presença dos franciscanos naquela região. Logo após os missionários refletiram sobre o tema das MFJ 2019 “Quem é da Paz promove a Vida” que é o mesmo da campanha sobre a Cultura da Não-violência lançada no final das MFJ 2018 realizadas em Horizontina. Frei Patrício conduziu este momento recordando alguns dados da violência. À tarde os missionários externos foram divididos em grupos e enviados para as comunidades da Rede. Chegando lá, juntamente com os missionários internos que os esperavam, realizaram visitas as famílias das comunidades que compõe a região atendida pelos freis (PROFILURB I, Vila Maria dos Anjos, Cidade de Agueda, Castelo Branco, Vila São João, Vila São Miguel, Carreiros...). Tendo em vista a sensibilização para a promoção da vida alguns missionários foram enviados para outros locais de missão fora da Rede de Comunidades São Lucas. Foram visitados dois hospitais: Santa Casa e Hospital Universitário. Duas comunidades terapêuticas: Vida Nova e Esquadrão da Vida. Um pensionato de idosos e a Cooperativa de Reciclagem Santa Rita. O primeiro dia encerrou com as celebrações em três comunidades da Rede: São Miguel, Santo Antônio e São José. Seguidas de uma bonita confraternização e distribuição dos missionários nas famílias acolhedoras para o pouso. No domingo o dia iniciou com uma animada celebração presidida por Dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande, que em sua homilia chamou a atenção dos jovens para a importância de cultivar a cultura de paz e a promoção da vida. Dom Ricardo lembrou que “o mal não é mais forte que o bem e a paz, por vezes, eles aparecem mais estão mais organizados” e convocou os jovens a “ continuarem se organizando para eventos e ações que promovam a Vida e a Paz”. No final da missa Dom Ricardo lançou um desafio aos jovens missionários para que a missão do próximo ano esteja em sintonia com o lema da Campanha da fraternidade 2020 que tem como tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”. No final da manhã houve a partilha das experiências missionárias, onde visivelmente, as realidades sociais e humanas dos lugares visitados comoveram os missionários. Segundo o jovem Manoel dos Santos Gomes (Rio de Janeiro) que esteve na cooperativa de reciclagem “foi uma experiência rica e gratificante, pois nos ajuda a se colocar mais no lugar do próximo e ver suas dificuldades”. Para o jovem Diego Kappaun (Horizontina) foi uma “experiência reveladora estar com os dependentes químicos em recuperação no Esquadrão da Vida, pois me mostrou uma realidade triste que pode ser modificada pela fé”. Para os missionários internos de Rio Grande a experiência das MFJ também foi significativa: “Apesar do cansaço estamos muito felizes. Foi um grande aprendizado para todos nós. As MFJ marcaram muito as nossas comunidades” lembrou Sirlei Valadão de Rio Grande. Logo após foi anunciada pelo Frei Tiago Frey a próxima sede das Missões Franciscanas da Juventude que será a paróquia São José que abrange os municípios de Taquari e Tabaí. Recordando a cultura da não-violência com a nossa Casa Comum, o envio dos missionários, aconteceu na beira da lagoa chamando a atenção para a poluição e as questões ecológicas. Foram distribuídos sementes de girassol, fitas com o lema das MFJ e panfletos da Vida Urgente chamando a atenção para o cuidado da vida no trânsito. A Gurizada Franciscana agradece a todas as famílias, lideranças e aos freis da Rede de Comunidades São Lucas em Rio Grande pela acolhida, trabalho e esforço para a realização da 3ª edição das MFJ. Sem dúvida, em relação a questão social e promoção da vida, foi a mais significativa e marcante das 03 missões realizadas pela Gurizada Franciscana nestes 03 anos. Obrigado às juventudes que vieram e que saibamos continuar com fé e animo a nossa missão diária em nossas comunidades onde moramos. Paz e Bem!

  • FORMAÇÃO!

    COMISSÃO PARA FORMAÇÃO E ESTUDOS Uma das dimensões muito importantes de nossa vida é a Formação e os Estudos, principalmente para a Vida Religiosa Consagrada, quando atuamos como instrumentos nas mãos de Deus, com pessoas, com comunidades eclesiais, com obras sociais, enfim: com vidas. Para organizar tal dimensão na Província, temos um Secretariado, que busca refletir de forma integrada a formação e os estudos de todos os frades, dos mais jovens até os mais idosos. Deste Secretariado, no tempo forte de preparação para o Capítulo Provincial são escolhidos alguns frades que formam uma comissão de projeção da formação e dos estudos para o futuro. Fruto de muita oração e reflexão, nesta Comissão surgem os projetos capitulares que serão encaminhados a todos os frades para que reflitam, rezem e depois todos decidam e juntos assumam a caminhada. Para este próximo Capítulo Provincial, nossa Comissão é composta pelos frades: João Carlos Karling, Sadi Rambo, Aldir Mattei, Franklin Freitas e eu, Frei Rodrigo André Cichowicz. Estamos com os trabalhos da Comissão já concluídos e encaminhados, aguardando a chegada do Capítulo, a se realizar de 13 a 18 de outubro próximo. Nossa Senhora Aparecida, São Francisco e Santa Clara intercedam junto ao Senhor por nós. Rezemos todos juntos em sintonia pelo bom êxito de nosso Capítulo. Na alegria franciscana, abraço de Paz e Bem! Frei Rodrigo André, OFM

  • ENVIO DOS MISSIONÁRIOS EM TAQUARI

    BATIZADOS E ENVIADOS Na noite do dia 22 de setembro de 2019, na Igreja Matriz São José, de Taquari aconteceu a missa de abertura das missões que acontecerão nos meses de outubro e novembro. O evento envolve leigos, freis e irmãs, pois todos são batizados e enviados. Ele está em sintonia com o pedido do Papa Francisco que convocou o mês extraordinário missionário para o mês de outubro deste ano, por ocasião do centenário da Carta Apostólica Maximum Illud, do Papa Bento XV. As missões acontecerão em todas as comunidades da paróquia. Serão visitadas famílias, comércios, instituições e pessoas pelas quais somos responsáveis. Também será feito o convite para participar da comunidade e da Ordenação Sacerdotal do Diácono João Vítor Freitas dos Santos, que acontecerá no dia 20 de dezembro deste ano.

  • OS ENSINAMENTOS DE JESUS

    O PANO DE FUNDO RELIGIOSO DA PRIMEIRA CARTA DE SÃO JOÃO Poder-se-ia iniciar esta reflexão sobre o pano de fundo religioso da primeira Carta de São João dizendo seguinte: O autor do Evangelho de São João nos apresenta os ensinamentos de Jesus. O autor da primeira Carta de São João quer mostrar se o modo de viver e de agir dos indivíduos e das comunidades está de acordo com os ensinamentos do Evangelho. Na época em que a Carta foi escrita ainda não existia um catálogo de verdades, ou seja, um catecismo onde as pessoas pudessem dirimir dúvidas. Foram exatamente as dúvidas e interpretações que não estariam de acordo com os evangelhos, e no nosso caso, do evangelho de São João, que fez com que o autor da primeira carta de São João reagisse contra falsas doutrinas a respeito de Jesus na sua época. Um primeiro dado que se tem a partir da própria carta é que o confronto não foi contra outras religiões, mas um confronto surgido a partir de uma crise dentro das próprias comunidades joaninas quando diz: “Ouvistes dizer que o Anticristo deve vir; e já vieram muitos anticristos... Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos” (1Jo 2,18-19). O texto deixa entrever um confronto entre dois grupos. De um lado está o primeiro grupo, do qual a primeira carta se faz de porta-voz. De outro lado está o grupo acusado de ter abandonado a fé autêntica e de ter rompido com a unidade eclesial. O confronto é de natureza cristológica. Deve-se estar ciente de que as verdades de fé a respeito de Jesus ainda não existiam. Um segundo dado que se deve ter presente é o fato de que neste tempo estava em ascensão uma nova doutrina chamada de “gnose” ou “gnosis” = “conhecimento”. Ela era praticada por diferentes seitas gnósticas. Apesar de que os escritos propriamente gnósticos sejam posteriores à carta, pois os primeiros escritos gnósticos datam de mais ou menos 150 d.C., as ideias gnósticas estavam presentes na vivência diária das pessoas. O evangelho de São João mostra isso quando o autor do evangelho faz uso de uma linguagem eivada de termos gnósticos. Os gnósticos consideravam, em princípio, a natureza como má, inferior e em oposição ao conhecimento. Isso relativizaria a importância da encarnação. Afirmava-se que a apresentação de Jesus num corpo era fictícia ou temporária apenas. Era apenas para que Jesus pudesse comunicar sua mensagem de revelação aos homens. O Evangelho de São João, no entanto, afirma categoricamente que Jesus se encarnou quando diz: “a Palavra se fez carne e armou sua tenda no meio de nós” (Jo,1,14). Outro dado importantíssimo que esses grupos relativizavam é a importância da encarnação para a redenção da criação. Ainda não existia a doutrina da dupla natureza de Cristo, ou seja, que Jesus é Deus e homem. Cristo (Deus) e o homem Jesus são a mesma pessoa (1Jo 2,22). Sua paixão, morte e ressurreição são essenciais para a redenção de tudo o que existe. Por meio delas acontece a salvação dos seres humanos. Cristo cumpriu sua missão sendo plenamente Deus e homem. A impecabilidade que os gnósticos se arrogam possuir no seu individualismo não é um estado conquistado pelo conhecimento apenas. É uma vocação que todo crente deve buscar. A busca da perfeição está profundamente conectada no amor ao próximo. A fé desconectada do amor é uma ilusão. Ela põe em perigo a comunhão eclesial. A primeira Carta aconselha a lutar contra o pecado, preservar-se desse mundo (deste sistema ou ordem) e lutar contra os Anticristos promotores do subjetivismo, isolacionismo, auto-suficiência, entre os quais, hoje, pode incluída a Nova Era.

  • 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C 22.09.2019

    REFLEXÃO DA LITURGIA DOMINICAL NA ÓTICA FRANCISCANA Leituras: Am 8,4-7; Sl 112.113; 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13 Tema-mensagem: Para que O tenhamos como amigo, Deus chega ao inaudito apelo para que O espoliemos Sentimento: admiração e gratidão Frei Junípero e o Mendigo, de Murilo Introdução O mistério deste domingo pode ser resumido nesta frase do Evangelho: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. 1. Uma denúncia sempre atual contra os que exploram os pobres (Am 8,4-7) Amós, um dos profetas “menores”, menor por causa da brevidade de sua profecia, mas “grande” pela coragem de suas graves denúncias, é quem nos introduz na celebração do mistério deste domingo: Ouvi isto, vós que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra. O conteúdo do seu pequeno discurso, do qual uma pequena parte é proclamada hoje, constitui-se numa das mais corajosas e bem específicas denúncias acerca das injustiças sociais do seu tempo como, também, para os dias de hoje. A ambição dos poderosos e ricos é tão insaciável que não conseguem mais celebrar a alegria das festas religiosas como dedicadas a Jahvé. Os Domingos e feriados lhes são um peso, um estorvo, uma pena que demoram a passar, impedindo assim que chegue a segunda-feira quando poderão retornar aos lucros e às falcatruas de seus negócios. É a força da antiga e sempre nova desenfreada “sociedade da produção e do consumo”. Para esta sempre falta tempo para produzir, vender, comprar, consumir, mas, na verdade, puro eufemismo com o qual se acobertam as injustiças humanas mais repugnantes, principalmente as que escravizam o homem aos ídolos do trabalho, do prazer e do mero prazer pelo prazer. Além do mais, a ânsia pelas coisas terrenas, leva-os a transformar os negócios em falsificações de todos os tipos, como diminuir as medidas, aumentar pesos e adulterar balanças. Enquanto isso, o pobre e marginalizado – o trabalhador do campo ou da cidade - tem de vender-lhes o tesouro maior - o próprio constitutivo da pessoa - que nem Deus mesmo ousa tocar: a liberdade. Para esses, porém soa dramática a sentença final do profeta: por causa da soberba de Jacó, jurou o Senhor: “Nunca mais esquecerei o que eles fizeram”. 2. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Lc 16,1-13) A parábola do evangelho de hoje, usualmente, é conhecida como “O administrador infiel”. Esse título não é muito fiel pois impede que cheguemos ao verdadeiro sentido da parábola. O centro, o protagonismo de toda esta narrativa, por incrível que pareça, não está no administrador com suas desonestidades e falcatruas, nem nos coitados devedores, mas no Homem rico, que aparece meio escondido. Mas, é com ele que tem início toda a história. 2.1. Mesmo nas desonestidades buscar sempre o Amigo O que este homem rico faz ou permite àquele seu administrador desleal, é coisa inaudita, fora da lógica do nosso mundo. Jamais se viu ou se verá um senhor ou dono muito rico deste mundo elogiar seu administrador infiel. Muito menos permitir-lhe que faça tais desonestidades sem nenhuma punição. Jesus sempre encontrou certa dificuldade para explicar a verdade mais radical e profunda de sua Boa Nova, de seu e nosso Pai. Aqui ele o descreve como um homem rico que permite ou até pede para que o administrador de seus bens – o homem - o exproprie a fim de obter sempre a amizade Dele. No fundo estamos diante de mais uma parábola que tenta explicar o mistério do Deus misericordioso revelado, principalmente, na Encarnação, na Cruz e na Eucaristia. Lembremos que aos apóstolos Jesus pede para que preparem tudo o que era necessário para a Ceia da Páscoa, isto é, a Ceia da imolação do novo Cordeiro, que não é outro senão Ele mesmo; a Judas pede que faça logo o que tem de fazer: a traição; na Ceia, na Eucaristia, ordena que comam de seu corpo e bebam de seu sangue. E no derradeiro momento de sua vida, reza ao Pai que cumpra Nele sua vontade: a Crucificação, a espoliação total e radical. Assim, Deus, o nosso Deus, além de se doar, pede que o expropriemos para que assim Ele seja realmente e inteiramente nosso, corpo do nosso corpo, alma de nossa alma. Por isso, termina a parábola dizendo: E eu vos digo: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. 2.2. O Amigo nos amigos O homem rico que dá origem a toda esta parábola é, pois, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Deus e nosso Pai que se doa a todos os seus filhos, de modo que onde estiver um desses seus filhos aí está também Ele. Dessa raiz nasce a familiaridade, a intimidade divina nos homens e entre os homens ao ponto de Jesus proclamar que tudo que fizermos a um desses seus menores é a Ele que o fazemos. Por isso, se antes os bens deviam ser usados para buscar o grande Amigo (Amor) que é Deus, agora é para buscar também os amigos do Amigo. Eis o único sentido dos bens terrestres. A amizade que devemos construir – seja em forma de vida fraterna ou de ajuda aos pobres - não é fruto de nossa boa vontade ou caridade, mas do dever de dar ao outro aquilo que lhe pertence. E o que lhe pertence, antes de mais nada, de qualquer outro bem, é a amizade. Pois, saibamos ou não, queiramos ou não, a essência do homem é dar, é doar-se aos outros, como Deus se doa a nós e a cada criatura. Por isso o homem é responsável pelos outros, pelas criaturas todas que o cercam e formam com ele a grande família de Deus. Por isso, sejamos pobres ou ricos, devemos sempre considerar todos os bens não como objetos de posse, mas como meios para fazer amigos, para construir pontes de comunhão, jamais de guerras, brigas ou muros de separação, para promover a vida, jamais a morte. A Boa Nova de Jesus vai ainda mais longe: que saibamos aproveitar até mesmo dos males, das injustiças, do pecado para fazer amigos como Deus que fez do pecado de Adão um meio para construir uma nova humanidade assentada na não-justiça humana. Daí, repetindo, o pedido do Senhor: Fazei amigos com a riqueza desonesta. Dentro desta visão cristã, todo empreendimento que não tem como objetivo o amor ao outro nasce fora de sua raiz e se crescer fora deste princípio em vez de frutos bons da alegria do encontro dará frutos marcados pelo amargor da injustiça e da discórdia. Por isso, o dinheiro e todos os bens deste mundo, tem um único sentido: a comunhão, a amizade, a igualdade; uma comunhão que deve abranger suas três grandes dimensões: a produção, a distribuição e o consumo. E isto em todos os níveis da vida humana: a familiar, a local, nacional e internacional. Eis como hoje se aplicaria o fazer amigos com a riqueza injusta. Neste sentido apenas dois são os caminhos que são oferecidos ao homem: fechar-se em seus próprios interesses, em seus próprios bens materiais e espirituais - caminho da perdição, do inferno – ou abrir-se para o Outro - caminho de salvação, do paraíso, do céu. Por isso, Jesus termina dizendo categoricamente: Ninguém pode servir a dois senhores porque ou odiará um e amará o outro; ou se apegará a um e desprezará o outro. 3. Fazer orações pelos homens, jamais aos homens (1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13) Segundo a lógica da mensagem do Evangelho de hoje, São Paulo, recomenda que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos que governam e por todos os que ocupam cargos... Através da recomendação de Paulo, a Igreja que reza não reconhece nenhuma outra autoridade absoluta fora de Deus. E isso se constituía num grande risco em meio aos costumes pagãos do império romano segundo os quais não se rezava pelo imperador mas ao imperador uma vez aquele se constituía numa espécie de divindade. Além do mais, rezar, como Paulo recomenda aqui, seria tirar os cristãos do domínio de Cesar, negando-lhes toda reinvindicação de, também eles se divinizarem. Quando a Igreja reza pelas autoridades deste mundo está expressando sua identidade de um Povo ou nação que não é deste mudo, mas que precisa de um espaço físico neste mundo para que possa realizar sua vocação-missão; sua condição humana, histórica consiste em viver dispersa pelo mundo inteiro em meio de todas as nações. Por isso, não pode jamais reivindicar nenhuma nacionalidade, territorialidade, legislação ou realeza deste mundo. A Igreja não fala uma língua particular, própria, mas todas as línguas, porque a língua dela é a língua do amor, da misericórdia. Sua missão é testemunhar a universalidade da salvação, da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Boa Nova do Pai. Toda a vez que a Igreja teve ou tiver a pretensão de constituir-se ela mesma num poder determinado, num povo determinado, numa cultura determinada perdeu e perderá a credibilidade de sua missão de evangelizadora universal. Conclusão No Domingo em que ouvimos de Cristo a parábola do “Homem rico que se deixa espoliar” para ter e fazer amigos somos levados a refletir e mudar nosso relacionamento acerca dos bens deste mundo, principalmente na urgente necessidade de uma distribuição mais justa e fraterna. Que os bens produzidos pela gratuidade da nossa irmã e mãe terra e do trabalho dos homens sirvam não apenas para a autossatisfação de um consumo fugaz e egoísta, mas principalmente para criar laços de união e de festa. Daí a importância de uma economia que tenha como princípio básico não o lucro, mas a distribuição das entradas para todos, principalmente para os mais desvalidos e necessitados, como diz o Papa Francisco (EG 202). E para que isso aconteça, continua nosso Papa, precisamos de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Temos de nos convencer que a caridade «é o princípio não só das micro relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos». Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos. E porque não acudirem a Deus pedindo-Lhe que inspire os seus planos? Estou convencido de que, a partir duma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade política e econômica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social. (EG 205). Finalmente, o exemplo de um dos mais fiéis discípulos de Francisco: Frei Junípero. No episódio que damos, temos de forma muito jocosa, mas ao mesmo tempo dramática, uma fiel interpretação da parábola proclamada hoje. Como Frei Junípero dava aos pobres a túnica toda ou parte e o que podia Tamanha era a piedade que Frei Junípero tinha para com os pobres que, se encontrasse um mais pobre que ele, segundo o hábito exterior, descosendo o hábito dava-lhe, imediatamente, a manga ou o capuz ou alguma outra peça. Por isso, o Guardião ordenara-lhe que a ninguém podia dar sua túnica, toda ou em parte. Certa vez, porém, aproximou-se dele um pobre pedindo-lhe esmola. Frei Junípero, todo ferido pela compaixão, disse: Caríssimo, nada tenho que te possa dar senão a túnica. Mas, também esta não te posso dar porque estou ligado ao preceito da obediência. Contudo, se ma tirares, não proibirei de modo nenhum. O pobre, de fato, espoliando-o e tomando-lhe o hábito, retirou-se e o deixou desnudo. E voltando aos frades, Frei Junípero disse-lhes que fora espoliado por um homem. Enfim, crescendo em piedade, Frei Junípero distribuía aos pobres não só sua túnica, mas, também, os livros, os paramentos do altar e os mantos dos frades. E, portanto, sempre que os pobres se aproximassem dele, os frades guardavam ou escondiam as coisas que queriam para si para que ele não as encontrasse (VE 4). Frei Dorvalino Fassini, ofm

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