A presença dos Frades Menores na Terra Santa remonta as raízes da Ordem. Fundada por São Francisco em 1209, logo se abriu a evangelização missionária e com o Capítulo Geral de 1217 que dividiu a Ordem em Províncias, nasceu a Província da Terra Santa.
A Província da Terra Santa abrangia, naturalmente, a terra natal de Cristo e os lugares por onde Ele pregou, por esse motivo é que a Custódia da Terra Santa foi considerada a pérola de todas as Províncias. E depois de abrir outras missões da Ordem em todo o mundo é considerada a pérola de todas as missões até os dias de hoje.
Essa Província foi visitada pelo próprio São Francisco que, por vários meses, esteve percorrendo o Egito, a Síria e a Palestina, entre 1219 e 1220, e é justamente nesse período que acontece o encontro de Francisco com o Sultão Melek el Kamel. Naquele contexto de guerras, no curso das Cruzadas, Francisco de Assis ultrapassou as trincheiras para ir dialogar com o Sultão, considerado o inimigo por excelência, o infiel.
Neste ano de 2019 celebramos oitocentos anos deste importante encontro, um encontro de diálogo entre dois mundos. Francisco, com sua forma simples de ser, não pretende a conversão do outro, apenas um diálogo de paz. Um sinal profético, um exemplo de diálogo e um testemunho de culturas diferentes que tem muito a dizer ao homem do nosso tempo.
A Missão da Terra Santa foi confiada ao Frades Menores pela bula do Papa Clemente VI, missão essa de cuidar e animar a vida de oração, a devoção e a divulgação dos Lugares Santos.
Muitas são as dificuldades que se enfrenta até hoje, pois essa é uma terra de grandes diferenças e muitas semelhanças, um lugar de encontro entre povos e culturas, e de diálogo - consigo, com o outro e com Deus.
Passaram-se oitocentos anos da presença franciscana na Terra Santa, foram tempos difíceis, com guerras, mudanças de governos, peste, fome, mas o que sempre animou e anima os frades que aqui vivem é o amor aos lugares santos da nossa redenção.
E é esse mesmo espírito que animou e anima a aventura humana e espiritual dos frades no Oriente Médio, a serviço das populações locais, sejam elas cristãs ou não, tambén nos Santuários espalhados por toda a Terra Santa, nas mais diversas liturgias, nas escolas e na educação, no cuidado pastoral das paróquias, na orientação e guia de peregrinos, na formação de frades e leigos do muito inteiro através do Studium Biblicum Franciscanum e do Studium Theologicum Jerosolymitanum.
A presença franciscana na Terra Santa constitui um grande mosaico onde cada pequena partícula tem uma grande importância para compor o rosto da terra de Nosso Senhor.
Aqui os frades não foram apenas os “guardiões” das pedras e dos lugares, a fim de preservar seu valor, mas sua missão também foi a de tornar vivas aquelas pedras, de fazer com que elas falem ao coração e à mente de todos os peregrinos que vem em peregrinação à Terra Santa com a intenção de ver, tocar com as próprias mãos as “simples pedras” como “pedras amadas”, através da fé.
A Custódia dos Lugares Santos, a acolhida aos peregrinos, o cuidado com os cristãos locais e o diálogo com todos, foram e são os motivos pelos quais os Frades Menores entregam todo dia, com paixão, suas vidas nas mãos do Senhor, seguindo seus passos na Sua própria Terra.
Frei Rodrigo Machado, ofm
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