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Carta do Ministro geral OFM para IX dia Mundial dos pobres: O Grito de Esperança dos Pobres e da Criação

  • freifranklinofm
  • há 8 minutos
  • 6 min de leitura

A todos os Frades da Ordem

 

Harare (Zimbábue), 1° de novembro de 2025

Solenidade de Todos os Santos e Santas

 

Queridos Irmãos,

o Senhor vos dê a paz!

 

Enquanto vivemos este Jubileu 2025, leio a Mensagem para o IX Dia Mundial dos Pobres, publicada pelo Papa Leão XIV no passado dia 13 de junho, “memória de Santo Antônio de Pádua, Padroeiro dos Pobres”. Como não reconhecer a responsabilidade histórica e eclesial que, como frades menores, temos na partilha de vida e no serviço aos pobres?


No centro da Mensagem encontramos as palavras do Salmo: «Tu és a minha esperança, Senhor DEUS»1 . É uma profissão de fé que nasce da luz que enche as «trevas do meu coração», como diz o jovem Francisco em São Damião, e que permanece firme na certeza de que só em Deus está a verdadeira âncora da vida.


É precisamente neste Ano jubilar que, como Família Franciscana, recordamos também o VIII Centenário do Cântico das Criaturas. Ambas as celebrações nos convidam a tornar-nos peregrinos de esperança com os pobres e com a criação. O Papa Francisco recordou-nos esta visão integral: «Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza»2 . O grito dos pobres deve ser escutado com aquele da criação, a casa comum, não só nas notas de dor e de lamento, mas também nas de esperança.


Escutemos este grito com São Francisco, que em Greccio quis «ver de algum modo com os olhos corporais os apuros que passou pela falta das coisas necessárias a um neonato»3 . Também nós, neste Ano jubilar, somos chamados a tornar-nos peregrinos de esperança juntamente com os pobres, reconhecendo neles os mestres privilegiados do Evangelho, escutando o seu grito e aquele da criação.


O Santo Padre recorda-nos que os pobres podem tornar-se testemunhas de uma esperança forte e confiável, precisamente porque a sua confiança não repousa nas seguranças do poder e do ter, mas unicamente em Deus.

 

O Evangelho liberta das correntes do nosso tempo

 

No Cântico das Criaturas, São Francisco mostra-nos que a novidade do Evangelho rompe as correntes da exclusão graças à fraternidade humana e cósmica, as cadeias do ódio através do perdão e a cadeia do medo da morte, acolhendo-a como nossa irmã. Quantas correntes hoje mostram novas formas de escravidão: a da economia do descarte, da indiferença globalizada, da cultura do bem-estar que coloca «o silenciador nas vozes de quem vive na pobreza».


Ao mesmo tempo, o Papa Leão XIV nos adverte claramente: «A pobreza mais grave é não conhecer a Deus». Esta é a pior discriminação que os pobres sofrem: a falta de atenção a toda a pessoa, incluindo a dimensão espiritual. Como irmãos e menores, somos chamados a oferecer não só pão para o corpo, mas ao mesmo tempo também a amizade de Deus, a sua Palavra, o pão da Eucaristia e da fraternidade.


Estar com os pobres é para nós muito mais do que qualquer atividade caritativa, por mais necessária que seja. É o caminho para nos tornarmos irmãos e menores. Como escreveu o Papa Francisco: «Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar- -lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles»4 .

 

As fraternidades como “portas santas” de acolhida

 

Neste Ano Santo, enquanto milhares de peregrinos cruzaram as Portas Santas, nossas fraternidades são chamadas a tornarem-se essas mesmas “portas santas” de acolhida para os pobres. Não podemos permitir que a realidade virtual prevaleça sobre a vida real, que os pobres se tornem «imagens que podem comover por alguns instantes» mas que depois, quando os encontramos «em carne e osso na rua», tomem conta de nós «o incômodo e a marginalização».


Seremos capazes de nos tornar amigos dos pobres, superando a distância que nos separa deles? A Mensagem do Santo Padre nos remete à fonte: «A esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes». É esta força que transforma a nossa forma de ver e julgar e, «servindo ao Senhor em pobreza e humildade»5 , nos permite tornar-nos autênticos irmãos entre nós e com todos.


É por isso que Francisco no começo da Ordem «quis que os irmãos permanecessem nos hospitais dos leprosos para servi-los»6 . Reconhecemos uma terapia particular implementada por Francisco no tratamento de pacientes com hanseníase. Era essencialmente baseado na partilha total da sua dor e da sua condição: era necessário lavá-los, tratá-los, servi-los e conviver realmente com eles, até comer na mesma tigela7 . Vamos ao encontro dos pobres, deixemo-nos acolher por eles. Assim mudará o nosso modo de olhar para o nosso rosto e para o do Senhor.


Isto vale para cada um de nós e para as nossas fraternidades e as nossas obras, que podem tornar-se “sinais de esperança”, na medida em que nos tornamos os primeiros a ser mais simples e pobres e aprendendo a viver com e entre os pobres através da partilha e da participação nas casas-famílias, nos centros de escuta, nas refeições para os pobres, nas escolas populares, nos centros de acolhimento para refugiados e migrantes, nos projetos de ecologia integral. Estes são sinais muitas vezes ocultos mas tão importantes para «se desvencilhar da indiferença e provocar o compromisso».

 

Da caridade à justiça

 

O Santo Padre conclui a sua Mensagem dizendo: «Ajudar os pobres é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade ». Francisco compreendeu este vínculo profundo. Na Regra não Bulada escreve: «a esmola é a herança e a justiça que se deve aos pobres, a qual Nosso Senhor Jesus Cristo conquistou para nós»8 . Para ele, a partilha não era um gesto de caridade opcional, mas exigência de fé e de justiça evangélica.


Isso nos chama a promover o bem comum, a trabalhar por uma economia fraterna, a denunciar as causas estruturais da pobreza. Nosso sine proprio não é apenas renúncia pessoal, mas testemunho profético de que os bens da terra devem ser “igualmente acessíveis” a todos.


Neste sentido, o compromisso do nosso Escritório JPIC junto com a Família Franciscana é coordenar diferentes redes regionais ou continentais para os migrantes, a paz e a ecologia integral. Estas não são atividades marginais, mas uma expressão autêntica do carisma franciscano no mundo de hoje.

 

Um gesto de minoridade para 2025

 

Como nos anos passados, por ocasião deste Dia, peço a cada frade e a cada fraternidade que faça um gesto concreto de serviço e partilha com pessoas e realidades desfavorecidas. Não um gesto esporádico, mas o início e a continuação de um caminho de proximidade que nos acompanhe até a conclusão do Centenário da Morte de São Francisco.

 

Por isso, convido-vos a:


◗ Verificar o conhecimento da área e das situações de pobreza que nos circundam.


◗ Abrir as nossas portas para a escuta e o acolhimento, saindo dos nossos comodismos.


◗ Colaborar com outras entidades eclesiais e civis no cuidado aos mais frágeis.


◗ Dar voz aos pobres nas nossas comunidades e nas nossas celebrações.

 

Quando a Porta Santa do Jubileu for fechada, poderemos conservar e transmitir os dons recebidos. Os pobres não são objetos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a procurar sempre novas formas de viver hoje o Evangelho.

 

Com Maria, Virgem pobrezinha


Francisco tinha escolhido Maria como modelo porque via nela aquela que, juntamente com o seu Filho, «quis neste mundo escolher a pobreza»9 . A Virgem pobrezinha é o ícone de quem sabe dizer “sim” a Deus confiando completamente na sua providência, mesmo na incerteza e na precariedade. Com ela dizemos: «Em ti, meu Deus, confio: que eu não fique decepcionado»10.


Os pobres nos ensinam que a esperança cristã é como uma âncora que fixa nossos corações na promessa do Senhor Jesus. Neste Ano Santo, deixemo-nos guiar por eles rumo a «um novo céu e uma nova terra»11, onde a existência de todas as criaturas encontrará o seu verdadeiro sentido.


Que São Francisco, que encontrou nos leprosos o caminho do Evangelho, nos acompanhe neste caminho de conversão e de serviço.


Quem quiser, conte-me o gesto feito por sua fraternidade, anexando também fotos (mingen@ofm.org), como testemunho do bem a ser compartilhado.


Com a Bênção de São Francisco e o meu abraço fraterno,



Fr. Massimo Fusarelli, OFM

Ministro Geral e servo

 


1 Sal 71, 5.

2 Papa Francisco, Carta Encíclica Laudato Si’, 2015, n. 139.

3 Primeira Vida, de Tomás de Celano, 84.

4 Papa Francisco, Mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres, 2021, n. 2.

5 Regra Bulada, VI, 3.

6 Compilação de Assis, 9.

7 Como fez Francisco em uma célebre passagem narrada na Compilação de Assis, 12.

8 Regra não Bulada, IX, 8.

9 Carta aos fiéis (Segunda recensão), I, 5.

10 Salmo 25,2.

11 Ap 21,1.

 

 
 
 

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