Leituras: Ex 19,2-6ª; Sl 99 (100); Rm 5,6-11; Mt 9,36-10,8
Tema-mensagem: Chamados da compaixão para a compaixão
Sentimento: compaixão
Introdução:
Retomamos, com este Domingo, o 11º do Tempo Comum, a celebração do mistério da Igreja, de sua presença, vocação e missão no mundo e para o mundo. Por isso, e para isso, iluminados pela Palavra de Deus, principalmente pelo Evangelho de hoje, celebramos, felizes e agradecidos, a missão que Jesus entrega aos Apóstolos e a todos nós: nos chama da compaixão e envia para a compaixão.
1. Israel chamado para ser um povo para todos os povos (Ex 19,2-6ª)
A misteriosa graça do Cristo que chama e envia os Apóstolos, sua Igreja, tem seu prenúncio já no Antigo Testamento, como vemos na primeira leitura de hoje.
1.1. O Senhor chamou Moisés do alto da montanha
No deserto do Sinai, acampado “diante da montanha” (Ex 19,2), Israel ouve do Senhor o desejo e a proposta de uma aliança. Na verdade, trata-se da culminância de toda uma aspiração, de toda uma caminhada em busca da libertação para que, enfim, Deus não estivesse só, nesse mundo, mas tivesse um povo que o servisse de verdade. Na saga da libertação, porém, não basta ao homem alcançar uma liberdade negativa, passiva, no sentido de apenas “libertar-se de”, no caso de Israel, de libertar-se do jugo da escravidão que lhe fora imposta pelos egípcios; é preciso, para além disso, alcançar uma liberdade positiva, que significa “libertar-se para” o bem, no caso de Israel, para o seu Senhor que “os havia trazido até Ele sobre asas de águia” (Ex 19,4). Assim, a partida de Israel do Egito tendia, ao natural, para essa culminância: a celebração da aliança com o Senhor, o Deus da libertação.
A aliança com o Senhor (YHWH) possibilitou que as multidões, que provinham dos nômades patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó), se tornassem um povo organizado (uma confederação de tribos). O Senhor seria o Deus desse povo e esse seria o povo desse Deus. A aliança fora compreendida inicialmente por esse povo em vista de vantagens econômicas (propriedade da terra e fartura de bens) e políticas (independência e domínio sobre outros povos da região). Com o passar do tempo, principalmente através dos profetas, foi ficando claro que, na aliança entre Deus e seu povo, o que estava em jogo, mais que conquistas econômicas e políticas, era um “sacrum commercium”, um comércio sagrado, um pacto de amor, semelhante à aliança que se estabelece entre esposo e esposa. Deus se compromete, no amor, com o seu povo como um esposo à sua esposa amada. E, por isso, requer do seu povo, também, a resposta de amor que deve traduzir-se em compromisso. Com o tempo, mais ainda, esse povo foi entendendo que sua missão histórica estava a serviço não só de si mesmo, mas também dos outros povos.
Estava lançada, assim, a semente da futura e definitiva aliança que será selada pelo sacrifício de Cristo na Cruz. Se os termos da aliança antiga foram estabelecidos nas Dez Palavras ou Mandamentos (Decálogo) (Ex. 20, 1-17) e desdobrados no “código da aliança” (Ex. 20, 22-23, 19), os termos da Nova Aliança serão estabelecidos no Mandamento Novo: “amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros” (Jo 13, 34).
1.2. O modo do Senhor conduzir seu povo
A aliança que o Senhor estabelece com Moisés, e através dele com seu povo, vem dentro da dinâmica da história que, como tal, sempre, evoca o passado, o presente e o futuro.
Primeiramente, o passado. Por isso o Senhor diz: “Vós mesmos vistes o que fiz ao Egito, como vos carreguei sobre asas de águia e vos fiz chegar até mim” (Ex. 19, 4). A figura da águia é usada por Deus, aqui, para despertar nos judeus a consciência acerca do modo como Ele os vinha tratando.
A águia, considerada, desde os primórdios da história humana, como rainha das aves e a ave solar, representa, entre outras qualificações, a majestade, a ternura, o cuidado paterno-materno. Assim, em vez de Jahvé ter deixado seu povo atravessar sozinho, passo a passo, o arenoso e escaldante solo do deserto, Ele o trouxe até Si com o vigor e a ternura da presença e companhia de um pai e nutrindo-o com a solicitude de uma mãe.
Em segundo lugar, a busca da aliança evoca e apela para o presente: “Agora, pois, se ouvirdes minha voz e guardardes minha aliança, sereis meu tesouro dentre todos os povos, pois toda a terra é minha” (Ex. 19, 5). Chamando Israel de “meu tesouro” ou “minha porção” o Senhor está indicando que sua aliança é diferente das alianças políticas, econômicas, etc. Será uma aliança de comunhão e de familiaridade com Ele. Comunhão e familiaridade, porém, que só acontecerão se houver, da parte do povo, a escuta da voz Dele, bem como a prática dos termos da aliança, os mandamentos. Se isto acontecer, diz o Senhor, Israel se tornará seu “quinhão”, sua porção, sua propriedade, sua pertencência querida, amada, seu povo predileto entre todos os povos.
Finalmente, a busca da aliança, por parte do Senhor termina com uma promessa para o futuro: “e vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex. 19, 6).
Israel não seria mais apenas um povo como os outros povos. Seria um povo transcendente, iluminado, nascido do alto e a serviço da iluminação e santificação dos outros povos; um povo destinado a testemunhar o Senhor no meio das nações, destinado a oferecer a Ele um sacrifício de louvor, e a receber Dele o seu favor, a sua graça em benefício de todos os demais povos. Seria, pois, um povo exemplar para todos porque feito de sacerdotes e regido por sacerdotes.
O grande equívoco no qual eles, os israelitas de ontem e nós cristãos de hoje, incorremos, muitas vezes, consiste em confundir o ser “eleito”, “santo”, “exemplar” e “separado” por Deus como um privilégio puro e simples, como uma prerrogativa que o poria na condição de “raça pura”, melhor do que os outros sob o ponto de vista étnico, moral e religioso (uma espécie de “tropa de elite”), e não como chamado para um serviço em favor de todos os homens para que todos sejam trazidos ao reino da salvação, o reino da compaixão.
2. Compaixão princípio de todos os princípios da vocação e missão de Jesus (Mt 9,36-10,8)
Na perícope do evangelho de hoje, Jesus começa a concretizar a promessa de Jahvé de instaurar no mundo o Reino da compaixão e dos compassivos, da misericórdia e dos misericordiosos. Encontramos nela três momentos sucessivos e visceralmente interligados pela compaixão: Jesus vê e se compadece das multidões, chama os apóstolos e os envia para serem testemunhas de sua compaixão.
2.1. Jesus vê as multidões
O evento começa com esta bela constatação: Jesus estava vendo as multidões... (Mt 9,36). Mais que o ver físico, é evidente que estamos diante do ver da graça da afeição, do encontro. Jesus sempre se mostrou muito atento, atencioso e compassivo não apenas individualmente, com as pessoas que sofriam, mas também coletivamente, com as multidões. E o evangelista de hoje acrescenta logo a causa: porque estavam exaustas e prostradas como ovelhas sem pastor (Mt 9,36).
Compaixão há que ser entendida aqui não como simples pena, dó, mas como amor de paixão, de toque, de afeição e de misericórdia, isto é, como aquele amor terno de pai ou de mãe, em que o homem se deixa atingir nas suas vísceras (esplanchna) pela situação ou dor do outro. Exemplo dessa compaixão podemos ver em São Francisco que, segundo os biógrafos, após a graça do encontro com o leproso e de seu beijo, costumava estender sua mão misericordiosa aos que não tinham nada, mostrando uma compaixão visceral aos aflitos (1C 17). Mais expressiva ainda era sua compaixão pelo seu Senhor: Andava chorando aos prantos e em alta voz, clamando: ’Choro a Paixão do meu senhor’... (LTC 14). A compaixão pelas multidões era, pois, a alma, o fogo que levava Jesus a percorrer cidades e aldeias ensinando, anunciando o evangelho do Reino, curando os homens de suas doenças e enfermidades (Cf. Mt 9, 35).
Por isso, o objeto da compaixão de Jesus, aqui, não são apenas as pessoas individualmente, mas as multidões. A multidão é o “não-povo” que tem que se contentar com a aridez e a frieza do ajuntamento e não com a graça do encontro que leva os indivíduos à comunhão, à familiaridade com Deus e com os companheiros. As multidões sempre vivem perdidas, sem origem e sem destino “cansadas e abatidas, como ovelhas que não tem pastor” (Mt 9,36). Bem dizia Charles Chaplin: “as multidões são monstros sem cabeça”. Por isso, se para muitos as multidões abatidas que, certamente, em muitos despertavam aversão e desprezo, em Jesus despertavam misericórdia: o amor entranhado e terno do Pai.
Por isso, sentia Jesus que chegara a hora de realizar as inúmeras promessas que o Pai fizera outrora ao seu povo querido através dos profetas, como essa: “A ovelha perdida eu a buscarei; a que se desgarrou, eu a reconduzirei; a que quebrou a pata, eu a tratarei; a enferma, eu a fortalecerei” (Ez 34, 16).
2.2. Jesus chama os doze Apóstolos
Do olhar misericordioso e compassivo nasce um outro ver, um ver novo que o olhar comum, alheio, acomodado e interesseiro não é capaz de ver: que a multidão não é multidão, mas a messe de Deus, e que existem espigas maduras, douradas, prontas para serem recolhidas no Reino de Deus: “A messe é grande! Só sua misericórdia vê tudo isso! ” (D. Bonhoeffer, Sequela, p. 187). Sim, a colheita é urgente! Não há tempo a perder!
2.2.1. Jesus passa aos Apóstolos sua autoridade
Mas há uma dificuldade: “poucos são os operários” (Mt 9,37). Ou seja, são poucos os que têm o olhar misericordioso e compassivo de Jesus – o bom pastor - para com as multidões. Jesus precisava, pois, de colaboradores. Daí sua recomendação aos seus discípulos: “Pedi, pois ao dono da messe que envie operários a sua colheita” (Mt 9,38). O pedido de Jesus foi atendido pelo Pai que lhe deu doze companheiros, irmãos, amigos, cooperadores na sua obra.
Jesus, porém, além de chamá-los confere-lhes, também, o poder, a autoridade (exousía) (Cf. Mt 10,1) que Ele tinha ou recebia de sua proximidade e intimidade com o Pai. Por isso, autoridade, aqui, antes de comando, chefia, significa o vigor, a paixão daquele que, movido pela graça do encontro, e a modo de servo, se doa todo para que o outro apareça e cresça em sua identidade. Assim era, por exemplo, a autoridade de João Batista: sua profunda união com o Messias levou-o a fazer tudo para que ele desaparecesse e em seu lugar aparecesse o Messias; assim foi também a autoridade de Jesus: sua profunda comunhão com o Pai levou-o a dar sua vida, até a morte e morte de cruz, para que Ele, desaparecendo, aparecesse o Pai e seu Reino. A verdadeira autoridade sempre faz o outro crescer.
A autoridade de Jesus e dos Doze confronta-se, assim, com o poder negativo, corrompido e corruptor que nasce do mundo. Há, assim, de um lado o anti-Reino com seus poderes que, além de apossar-se dos homens, tornando-os escravos de seus vícios e pecados, tira-lhes o vigor e a alegria de viver; e de outro lado há a autoridade de Cristo, compartilhada com os seus mensageiros que conduz os homens e as criaturas para a liberdade dos filhos de Deus.
2.2.2. Uma Comunidade na singularidade – Uma singularidade na comunidade
Os eleitos são doze. Doze é número que perpassa a história da Antiga Aliança. Doze eram os filhos de Jacó (Israel), os patriarcas (Gn 35). O povo de Israel se compõe de doze tribos e tem doze príncipes (Nm 1). Quanto ao seu simbolismo Santo Agostinho diz que Cristo é o Sol (a luz do mundo) e os Apóstolos são as Doze horas que O circundam e que, iluminados com a claridade Dele, iluminam e aquecem o mundo todo.
Cada um dos doze, chamados e eleitos - de Simão Pedro até Judas - ao ser evocado com o seu nome, se apresenta com sua singularidade. Simão, por exemplo, é o primeiro entre os pares. Se Cristo é a Pedra (1 Cor. 10, 4), Simão tornou-se Pedro (de Pedra) por sua união com Cristo e por tê-Lo confessado como o Filho do Deus vivo. E assim por diante, ao percorrermos a lista dos chamados transparece as diferenças, tanto individuais como das seis duplas. Trata-se de homens bem diferentes e diferenciados um do outro, às vezes até bem opostos e briguentos. Mas, suas diferenças foram reunidas numa identidade comum: a de serem os discípulos-mensageiros de Cristo, os Doze Apóstolos. “É somente o chamado e a eleição que une os doze (...). Nenhuma razão no mundo teria poder de coligar estes homens na mesma obra fora do chamado de Jesus. Aqui foi superada toda precedente divisão e foi fundada a nova, firme comunidade em Jesus” (D. Bonhoeffer).
É admirável, também, que Jesus os envia em duplas e não individualmente. As explicações são várias. A que mais se ressalta é a de que a missão é da Comunidade, da Igreja. Jamais do evangelizador. Além do mais, se o evangelizador fosse sozinho, com quem iria ele partir o pão do amor? Como iria realizar o mandamento de lavar os pés uns dos outros, essência de toda a evangelização?!
Assim, na história do cristianismo, a diversidade dos apóstolos imprimiu um caráter pessoal e diferenciado às comunidades ou igrejas por eles fundadas. Uma será a Igreja de Jerusalém, outra a de Roma, de Corinto, etc. Mas, todas formam e constituem a única Igreja de Cristo: uma “Igreja una, santa, católica e apostólica” (Símbolo niceno-constantinopolitano). O cristianismo nunca foi homogêneo. Nele, porém, as diferenças não são obstáculos, mas riquezas para a comum identidade e missão. Isso foi muito bem compreendido e vivido, treze séculos mais tarde, na fraternidade primitiva da Ordem de São Francisco de Assis, da qual os Atos do bem-aventurado Francisco e dos seus companheiros (I Fioretti) nos dão admiráveis e belos exemplos. Clássica é a frase de São Francisco: “Irmãos meus, Irmãos meus, como gostaria de que minha Ordem fosse uma selva de juníperos!” (VJ 1).
2.3. O Envio
Na parte final do evangelho de hoje, Jesus, primeiramente, dá aos seus eleitos-enviados as instruções e depois confia-lhes sua missão.
2.3.1. As Instruções
A primeira instrução é uma restrição: “Não sigais o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide primeiramente às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,5).
Essa restrição, antes de exclusão aponta para uma concentração provisória. Significa simplesmente que Deus se mantinha fiel a sua promessa de fazer de Israel seu povo escolhido e enviado para fazer chegar seu reino a todos os povos. Foi somente depois da oposição e da rejeição dos judeus que ficou claro para a Igreja primitiva a universalidade da missão cristã. Por isso, São João Crisóstomo entende esse primeiro envio como uma escola, uma aprendizagem, uma espécie de estágio: preparar os Apóstolos para sua futura missão na qual eles, após a Ressurreição do Senhor, irão ao encontro e de encontro às nações de toda a terra.
A segunda instrução diz: “Pelo caminho, proclamai que está perto o reino dos Céus” (Mt 10, 7). Ao mensageiro compete anunciar nenhuma outra mensagem senão a daquele que o envia. Ora, anunciar o Reino de Deus foi a essência de toda a missão de Jesus desde o princípio até o fim. Essa deverá ser, portanto, também a mensagem dos apóstolos e de todos os evangelizadores: Reino que não é nem bebida e nem comida, mas justiça, paz e alegria no Espírito (Rm 14,17), um reinado que é de compaixão e de compassivos (Ef 4,31) ou de compadecidos (Cf. Auto da Compadecida, peça teatral de Ariano Suassuna).
2.3.2. As obras
Ao anúncio do reino seguem, natural e necessariamente, as obras. Ou seja, do enviado se espera não apenas que anuncie as palavras daquele que o enviou, mas, também, que realize suas obras. É que a palavra de Deus, de quem os apóstolos são mensageiros, é palavra-e-obra, é palavra-evento, palavra que deixa e faz acontecer o seu Reino. Por isso, Jesus lhes ordena: “Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10,8). Assim, o anúncio se torna evento, o evento testemunha o anúncio (D. Bonhoeffer)[1].
Esse evento consiste na aniquilação daquilo que aniquila o homem: o império do pecado e da morte em que o homem se encontra perdido. Perdido ao mesmo tempo na massa (multidões informes) e perdido sozinho porque entregue ao desespero de seu egocentrismo e ao “niilismo” e às suas consequências nefastas, como mostra Dostoiévski no seu romance “Os demônios” ou “Os possessos”.
Assim, no envio dos Doze mensageiros, atua o Único que os envia: Cristo, a Palavra viva do Pai - mensageiro e mensagem, ao mesmo tempo - pois é Nele e com Ele que o Reino de Deus – sua compaixão - se tornou próximo dos homens. E se crermos Nele, diz Jesus, faremos também as obras que Ele faz (Cf. Jo 14,12), isto é, também seremos capazes de ser compassivos com as multidões cansadas e abatidas, levando-as do inferno do “não-povo” para a bem-aventurança de se tornarem Povo de Deus, Igreja.
3. Jesus Cristo crucificado a misericórdia do Pai
Quem, jubiloso, exalta o mistério da compaixão de Deus, testemunhada por Cristo, é São Paulo. Chega a denomina-Lo de Pai da Misericórdias (2Cor 1,3). No pequeno trecho de sua Carta aos Romanos, proclamado hoje, nos revela como Jesus nos “comprou” de volta para seu Pai: Quando éramos ainda fracos, no tempo marcado, Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). Vem, então a grande conclusão: Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida! (Rm 5,10). Abre-se, assim, uma inabalável esperança de salvação, de um rumo seguro não apenas para nós, mas também para todos os homens, para a humanidade e sua história.
Por isso, mais tarde, também Santa Clara, fazendo eco a esse mistério, exclama: Entre outros benefícios que temos recebido e estamos recebendo diariamente de nosso doador, ‘Pai das misericórdias’, e pelos quais devemos dar mais ações de graças ao mesmo glorioso Pai, está nossa vocação que, quanto mais perfeita e maior, mais a Ele a devemos (TCL 2).
Conclusão
Para São Francisco, a compaixão de Jesus Cristo, admirável e divinamente testemunhada na Cruz, é o coração de Deus, a medula do Evangelho, a grande, bela e Boa Nova (Evangelho) que salva os homens porque os liberta do inferno do egocentrismo, tanto dos indivíduos como das massas, congregando-os, assim e de novo, em povo: Povo de Deus, Igreja. Uma compaixão, porém, que se desdobra em atos de misericórdia. Por isso, dizia ainda que “Bem-aventurado é o homem que suporta o próximo segundo a sua fragilidade naquilo que quereria ser suportado por ele, se estivesse em situação idêntica” (Ad 18).
Nesse sentido, quando Jesus chama não é para constituir funcionários, tarefeiros, mas pessoas para, primeiramente, serem e estarem com ele como amigos, irmãos, companheiros no mesmo chamado e missão do Pai (“companheiro”, no latim “cum” + “panis”: aquele que come do mesmo pão). Por isso, diz nosso Papa Francisco: “o verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar segura do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém (EG 266).
Fraternalmente,
Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm
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