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468 itens encontrados para ""

  • Freis participam de retiro em preparação ao Capítulo Provincial

    Entre os dias 21 e 26 de Julho, no Convento São Boaventura em Imigrante (RS), aconteceu o 1º Retiro Provincial de 2019. O tema do retiro foi “Fraternidade e Redimensionamento”, o mesmo do Capítulo Provincial. Os retiros deste ano estão sendo preparatórios para o Capítulo Provincial e orientados pelo Secretariado de Evangelização em consonância com o documento do Conselho Plenário da Ordem de 2018. O 2º retiro será em setembro na Cúria Provincial em Porto Alegre.

  • Porciúncula: berço da fraternidade

    Lugar fontal para a nossa mística. Santa Maria dos Anjos: berço da fraternidade! Aqui começou a vida e o amor mútuo. Um santuário mariano-franciscano, lugar – santo, dos mais freqüentado em todo o mundo. É um espaço para rezar, refletir, purificar, encher-se de graça e iniciar novamente o caminho. Se Assis é a “capital do espírito”, Porciúncula é um lugar necessário a toda humana criatura de nosso tempo: uma etapa, uma luz sobre o caminho. Ali emana um único fascínio: a mensagem pulsante do Evangelho, alegria, serenidade, simplicidade, fidelidade, pobreza…Foi edificada no século X, no ano de 1045. Pertencia aos monges beneditinos do monte Subásio que ali alimentavam uma “pequena porção” de santuário. O que é o santuário? É um lugar sagrado onde a presença de Deus se manifesta. O mistério presente da divindade é que determina o lugar do culto. Santuário é lugar e não museu arqueológico a mostrar e conservar memórias e glórias mumificadas do passado. Ali os acontecimentos passados são vivos e presentes: ali viveu Francisco, ali passou Clara, ali morreu o Poverello. Francisco e Clara continuam a ser mais vivos que nunca e a sua escolha de Amor é que marca definitivamente o lugar. Ali a Fraternidade se faz encontro,cresce,contagia e se comunica. (Cfr 1 Cel 106) Em 1210 Francisco pede ao bispo de Assis e depois aos Cônegos de São Rufino alguma igrejinha para cuidar. A resposta é negativa. Vai então ao abade do mosteiro de São Bento, Dom Teobaldo. Este, com o consenso da comunidade monacal, concede a Francisco e a seu primeiros companheiros a Porciúncula para o simples uso e moradia. Só pedem uma condição: se a religião constituída por Francisco crescer, a Porciúncula seja a casa-mãe. Dom recebido Dom dividido. A casa fundada sobre o sólido alicerce da Pobreza ganha um sinal: por graça e gratidão ao bem feito pelos beneditinos, há o gesto da retribuição: cada ano os frades mandavam aos monges um cesto cheio de peixes. Os monges agradeciam com um vaso cheio de óleo. LTC 56; LP 8. Porciúncula: • experiência primitiva de Fraternidade • lugar reconstituído com o trabalho manual • próximo aos bosques • próximo aos leprosários • pequenas celas para a moradia • primeiro encontro com o Evangelho (Mt 10,5-15) • ali o encontro do rumo definitivo na vida (1 Cel 21;LM 2,8;Lm 1,9;1 Cel 44) • os primeiros companheiros Bernardo e Pedro vêm morar ali • Bernardo, Pedro, Egídio e Francisco partem dali para a primeira missão • a fraternidade cresce e encontra seu espaço • é o santuário da missão ( 1 Cel 22;LM 3,1: LTC 25: Lm3,7;Fior13) • No dia 19 de março de 1211/1112, chega a Porciúncula, a nobre jovem Clara de Faverone. • Em julho de 1216, Francisco consegue do Papa Honório III a Indulgência ou o Perdão da Porciúncula. • É um lugar muito elogiado. (1 Cel 106; LP 8-12:LM 2,8) • Lugar dos Capítulos. Ali se realizou o famoso Capitulo das Esteiras – 1221. (LTC 57-59; AP 18,37-39; LP 114, Fior 18) • Clara vai à Porciúncula visitar Francisco. Comem juntos num luminoso banquete espiritual. (Fior 15)• A irmã Jacoba de Settesoli, amiga de Francisco, chega pouco antes de sua morte, trazendo doce conforto. (EP112;LP101;Cel 37-39) • A irmã morte visita Francisco ( 2 Cel 214-217; LM 14,3-6;LTC 68;LP 64) Ensinamentos da Porciúncula • momento culminante da mudança radical de Francisco • não teve dúvidas que o Senhor tinha suas exigências • acolher o Evangelho, escutar o outro (a),percorrer o caminho proposto • lugar de penitência e serviço • ensina que todos devemos ser criativos (as) para fazer renascer a simplicidade primitiva. • santuário da missão: enviar, regressar, fortalecer e orar. • capítulo: momento privilegiado de encontro. Frei Vitório Mazzuco

  • Jovem de Horizontina será missionária no Pará

    A jovem Fernanda Lowe, participante da Paróquia Nossa Senhora do Rosário será enviada em missão, para as terras do Marabá (Pará). Por isso a equipe do site Franciscanos RS, realizou algumas perguntas para a jovem. 1- Como surgiu seu chamado de ser missionária? O chamado missionário foi semeado desde que eu nasci. Juntando histórias da família, percebo isso hoje. Minha avó materna foi sempre muito religiosa e eu aprendi a SER Igreja com ela, minha mãe e meu padrinho também sempre foram oração e coração, inclusive, o sonho do meu padrinho Valdir quando jovem era sair em missão. Acredito que essa missão é fruto de um emaranhado de desejos divinos, estou muito feliz em fazer parte disso, representando a Paróquia de Horizontina, a comunidade, o movimento de Emaús e minha família. Para falar sobre o chamado, vou contar um episódio que aconteceu comigo... Se Deus age de diversas formas e envia sinais constantemente para guiar meus passos, a atividade missionária foi mais uma vez marca da presença Dele na minha vida. Quando o Frei Tiago trouxe a ideia das Missões no encontro de Emaús em Junho de 2018 eu pensei, nossa!, mais uma coisa pra gente se envolver... Como se a participação nas missões fosse obrigação, já que estaria acontecendo aqui na cidade de Horizontina/RS, bem debaixo do meu nariz, até os 45 do segundo tempo eu esperei para me inscrever. Afinal, vai que naquele final de semana aparecesse “algo para fazer”. Confesso que manifestei minha opinião sobre algumas coisas e até ajudei na montagem das lembrancinhas, mas nada de muito envolvimento – o que é incomum, porque eu prefiro estar no clima e organização dos eventos... Mas enfim, nos últimos meses eu estava esperando algo acontecer, um sinalzinho de Deus sabe, daquelas coisas que a gente pede para que aconteçam no nosso tempo...mas pra tudo na vida há um momento perfeito. Como Deus é bom o tempo todo, ele me deu a oportunidade de fazer parte das Missões Franciscanas da Juventude!!! A vivência nas missões foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Eu fui agraciada com um final de semana lindo, repleto de compartilhamentos, de partilhas, de histórias e de aprendizagens. Meu coração, que eu achava que estava aberto, foi realmente iluminado pelo Espírito Santo. Como eu fui pequena, egoísta e impaciente – agora percebo que muitas atitudes eu deixava de tomar em virtude de percepções errôneas que tinha sobre determinadas situações, e isso era preconceito. As provações requerem entrega, e além disso, aceitação - Jesus não entra sem ser convidado! Todo o carinho que eu recebi...sem oferecer nada em troca. Tudo o que eu tinha era a palavra de Deus e a companhia de pessoas maravilhosas, conduzidas pelo Espírito Santo, que, junto comigo, caminharam lado a lado ao encontro daqueles que ansiavam pelas visitas – e esse foi o nosso tesouro. Compreendi as provações, e assumi minhas falhas e eu escolhi Deus. Ele esteve perto e me carregou no colo, conduziu meus passos e minhas ações para que eu experimentasse todas as bênçãos naqueles três dias – ele designou com tanto zelo as situações pelas quais eu deveria passar, para que eu pudesse aprender, para que além de difundir a cultura da paz e do bem, eu pudesse compreender as dores do mundo. Depois daquele final de semana eu despertei e nunca mais fui a mesma. Nas missões eu fui ouvinte, fui conselheira, fui amiga e consolei o choro repreendido, mas, acima de tudo, fui instrumento do Espírito Santo. Deus me fez grande. Eu renovei a fé e reascendi a chama do “ser cristão”, eu cultivei a semente da paz junto com Clara e Francisco. A cada visita um olhar que demonstrava a compaixão, a sinceridade das pessoas ao ouvir a palavra de Deus e a alegria de todos aos receberem a benção no lar. Ao ouvir a partilha da Irmã sobre a missão, eu ouvi o chamado e percebi que Deus habita em mim... Meu coração estava na palma da mão e o meu olhar transmitia a fraternidade – eu fiz parte da história daquelas pessoas e queria sentir tudo aquilo muitas vezes na vida! Juntos caminhamos pela paz. Como falamos em Emaús, eu vivi o quarto dia. De tudo, eu só ganhei... ganhei aquilo que o dinheiro não pode comprar. Além de sentir, eu ouvi a voz de Deus ecoando em nossos corações, palavras lançadas ao vento emanando uma energia ímpar através do ritual de dança na praça, a oração encantando aqueles que viam e aqueles que ouviam. 2- Como vai ser sua missão? Aonde? No próximo dia 04 eu sigo para a formação missionária no Centro Cultural Missionário em Brasília, e, de lá vou para Marabá no dia 09 de Agosto. Estou sendo enviada como missionária pelo projeto igrejas-irmãs entre as Dioceses de Santo Ângelo/RS e Marabá/PA, que acontece desde 1973. O projeto é uma parceria que envolve solidariedade entre uma comunidade mais favorecida e outra com menos recursos, ou seja, o potencial humano é “emprestado” nesses casos e a(o) missionária(o) é enviada(o) para uma experiência de troca entre dioceses por um período. A missão vai acontecer na cidade de Marabá no Pará e eu serei designada para auxiliar nas pastorais, que serão definidas lá conforme os planos de Deus e as escolhas da própria Diocese – tenho certeza que Deus preparou para mim uma vivência extraordinária. 3- O que significa ser de uma paróquia Franciscana enviada em missão? Ser de uma paróquia Franciscana e enviada em missão significa muito para mim, o chamado aconteceu durante as missões franciscanas da juventude e, tudo o que foi delineado lá durante as visitas e conversas, é o que plantamos no dia a dia em comunidade: a paz e o bem! A base da minha religiosidade está calcada nesses princípios, então não tem como ser mais lindo né?! É plano de Deus, é o divino Espírito Santo que nos acompanhar. Como profere a passagem de Lucas sobre os caminhos de Emaús, ao partir o pão os discípulos reconheceram Jesus. Assim como aconteceu com eles, durante a partilha de experiências na missão franciscana da juventude em 2018 eu senti o chamado: eu fui instrumento do Espírito Santo. Como mencionei anteriormente, é Deus quem nos faz gigantes! Os planos Dele são muito maiores que os nossos e, se pedirmos, Ele nos guia, nos conduz e nos carrega no colo se preciso for. Missão pra mim é encontro. Como já mencionei diversas vezes, o que me motiva a sair em missão é olhar o outro. É sentir que o outro existe e que eu posso fazer diferença na vida das pessoas – é empatia, é reciprocidade, é amor, é Deus!. Quanto às expectativas, que eu tenha saúde, perseverança e disposição para seguir os planos do Pai, que irá conduzir todos os meus passos, como fez até aqui. Que eu cumpra o destino e percorra com fé, levando luz para todos os caminhos que Ele preparou para mim. Vou de coração aberto para viver todas as experiências.

  • Frades realizam semana de retiro em Imigrante

    Entre os dias 21 e 26 de Julho, no Convento São Boaventura em Imigrante (RS), aconteceu o 1º Retiro Provincial de 2019. O tema do retiro foi “Fraternidade e Redimensionamento”, o mesmo do Capítulo Provincial. Os retiros deste ano estão sendo preparatórios para o Capítulo Provincial e orientados pelo Secretariado de Evangelização em consonância com o documento do Conselho Plenário da Ordem de 2018. O 2º retiro será em setembro na Cúria Provincial em Porto Alegre.

  • SITE NOVO

    Frei Paulo Eduardo Müller, anuncia o novo site da Província São Francisco de Assis! É com muita alegria, no dia de Nossa Senhora dos Anjos, que lançamos o novo layout do nosso site. Agora mais dinâmico e de fácil acesso!

  • Discernir a partir do Espírito de Deus: Sínodo da Amazônia

    Discernir a partir do Espírito de Deus: em chave de Unidade, Caridade e Paz frente às tensões do processo Sinodal Pan-Amazônico. Artigo de Maurício López “Desqualificar o Instrumentum Laboris é despojar o processo sinodal de seu inegável valor de discernimento e sua potencial fonte de novidade, ainda mais quando esse está em marcha. Ante uma porção ampla do Povo de Deus, que participou com suas esperanças e fragilidades na consulta sinodal, e daqueles que, sem dúvidas, deixaram refletido no Instrumentum Laboris o seu sentido de fé no ato de crer (sensus fidei in credendo), o convite é para tirar suas sandálias e abrir os ouvidos e corações para ver o que Deus poderia estar dizendo a partir deles para o bem de toda a igreja. É necessário retirar qualquer atitude de suspeita preexistente que impeça o Espírito de se expressar como uma brisa suave”, escreve Maurício López, mexicano, secretário executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica – Repam e membro do Conselho Pré-Sinodal para o Sínodo Pan-Amazônico. Ele foi presidente das Comunidades de Vida Cristã – CVX. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo. Eis o artigo. Mesmo que tenha o dom da profecia, o saber de todos os mistérios e de todo o conhecimento; mesmo que tenha a fé mais total, a que transporta montanhas, se me falta o amor, nada sou (…) Pois o nosso conhecimento é limitado e limitada a nossa profecia (1Cor 13, 2; 9) Um olhar sobre o contexto das tensões associadas ao Sínodo Pan-Amazônico e seu Documento de Trabalho (Instrumentum laboris – IL) Parece-me natural, e até desejável, que haja vozes diversas (inclusive de dissenso) nesse processo Sinodal Pan-Amazônico. Isso reflete muito bem a ampla riqueza de nossa Igreja. Em um caminho sinodal, se fiel a sua função essencial, devem ser bem-vindas todas as vozes, sempre e quando tenham uma correta intenção e sejam para o bem da Igreja e sua missão. Talvez algum dos traços mais definidores do Sínodo Pan-Amazônico, e que pode ser a razão de certa inquietude ou incompreensão por parte de alguns setores, é que é um Sínodo que vem da periferia ao centro – Maurício López Esse Sínodo Pan-Amazônico, que carrega consigo vários traços de novidade, está em comunhão plena com a Constituição Apostólica “Episcopalis Communio” (EC) do papa Francisco. Talvez algum dos seus traços mais definidores, e que pode ser a razão de certa inquietude ou incompreensão por parte de alguns setores da própria Igreja e fora dela, é que é um Sínodo que vem da periferia ao centro. A Amazônia e a própria região sul-americana, com sua caminhada eclesial rica e particular, representam as margens que buscam contribuir para o centro de sua purificação, como acontece em tantas ocasiões no Evangelho de Jesus. Por nenhuma razão é um processo em que esta periferia pretende ocupar o lugar do centro. Na verdade, isso seria totalmente indesejável. Esta periferia traz consigo o que ela tem e o que é, e com isso talvez pudesse oferecer algumas luzes para o momento presente que exige mudanças urgentes diante dos enormes desafios tanto para a Igreja quanto para a sociedade global como um todo. Seria muito positivo que todos nós que participamos do processo de preparação para o Sínodo Pan-Amazônico, ou que tenham um interesse genuíno por ele, possamos ler e orar algumas dicas do Concílio Vaticano II como pré-condição para fazermos nossas contribuições. Tudo isso sob a premissa de ser uma Igreja de Cristo na diversidade, e onde há apenas um Colégio Apostólico que une o Sumo Pontífice e os Bispos: “Já na disciplina primitiva, segundo a qual os Bispos de todo o orbe comunicavam entre si e com o Bispo de Roma no vínculo da UNIDADE, da CARIDADE e da PAZ” (nº 22. Constituição sobre a Igreja. Cap 3. O Episcopado. Concílio Vaticano II – CVII). Ao receber qualquer posicionamento sobre o Sínodo Pan-Amazônico, e avaliar sua correta intenção, ajudará muito identificar se esse vem do desejo de promover as três atitudes e condições essenciais: Unidade, Caridade e Paz – Maurício López Ao receber qualquer posicionamento em relação ao Sínodo Pan-Amazônico, e avaliar sua correta intenção, ajudará muito identificar se esse vem do desejo de promover estas três atitudes e condições essenciais: Unidade, Caridade e Paz. Não devemos nos preocupar com as divergências, insistimos que elas são, de fato, potencialmente boas, mas algo que deve ficar absolutamente claro é perguntarmos a nós mesmos se elas foram criadas a partir desses três elementos tão belamente expressos no CVII e às vezes pouco vivenciados. Chaves de um discernimento sinodal para buscar a vontade de Deus neste Kairós O discernimento de espírito é uma maneira de encontrar e seguir a vontade de Deus, como aprendi e experimentei em meu próprio serviço de acompanhar em sentido amplo e a partir da tradição de Santo Inácio de Loyola. Trata-se de distinguir o que vem do bom Espírito que conduz a maior plenitude, mais sentido de vida, maior paz interior e comunhão; e, ao contrário, o que vem do espírito maligno que é o oposto, o que produz confusão, perda de sentido e ruptura interna negativa. Vale a pena convidar toda a Igreja a entrar em uma atitude genuína de discernimento sinodal. Espera-se que não se caia na armadilha de entrar em controvérsias antes do discernimento da Assembleia Sinodal – Maurício López A partir disso, vale a pena convidar toda a Igreja, seja da Amazônia ou não, a entrar em uma atitude genuína de discernimento sinodal para buscar e encontrar a vontade de Deus. Espera-se que não se caia na armadilha de entrar em controvérsias antes do discernimento da Assembleia Sinodal, onde poderíamos nos distrair com a estridência de certas posições que não enriquecem o processo. Peçamos aos padres sinodais e a todos os assistentes da Assembleia: que saibamos identificar o que é de Deus e que representa uma “consolação espiritual” (Exercícios Espirituais de Santo Inácio, nº 316): aumento de esperança, fé e caridade e alegria interior que atrai as coisas de Deus; e o que, ao contrário, não é de Deus que expressa uma “desolação espiritual” (E.E. Nº. 317): trevas na alma, turbação (inquietação destrutiva), o que nos leva à desconfiança e à falta de sentido. Na reflexão do Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho), e em todos os conteúdos associados ao Sínodo Pan-Amazônico, somos chamados a fazer uma leitura séria e profunda. Devemos discernir com valentia, ânimo e liberdade interior o que Deus nos chama neste momento que reconhecemos como um verdadeiro kairós. Um momento especial e propício para reconhecer a revelação de Deus para a Amazônia e para a missão de seguir o Senhor de toda a Igreja. Alguns perigos para o discernimento sobre o Instrumentum Laboris do Sínodo Pan-Amazônico Desqualificar o IL é despojar o processo sinodal de seu inegável valor de discernimento e sua potencial fonte de novidade, ainda mais quando esse ainda está em marcha. Ante uma porção ampla do Povo de Deus, que participou com suas esperanças e fragilidades na consulta sinodal [1], e daqueles que, sem dúvidas, deixaram refletido no Instrumentum Laboris o seu sentido de fé no ato de crer (sensus fidei in credendo), o convite é para tirar suas sandálias e abrir os ouvidos e corações para ver o que Deus poderia estar dizendo a partir deles para o bem de toda a igreja. É necessário retirar qualquer atitude de suspeita preexistente que impeça o Espírito de se expressar como uma brisa suave. Desqualificar o Instrumentum Laboris é despojar o processo de seu inegável valor de discernimento e sua fonte de novidade, contra o Povo de Deus que participou com suas esperanças e fragilidades na consulta sinodal – Maurício López 1. Há um perigo de pretender “atar” o Espírito para que antes que ocorra o Discernimento Sinodal na Assembleia de Outubro lhe imponham limites, restrições ou cadeias. Querer submeter o Espírito em função de vontades particulares seria infrutífero e poderia limitar a liberdade no caminho sinodal. É necessário compreender o processo, suas etapas, e então identificar que tanto o Documento Preparatório (Lineamenta) quanto o Documento de Trabalho (Instrumentum Laboris) são meios, não fins. Isto é, são como o grão de trigo que de certa forma deve morrer para dar fruto. Não são documentos finais, são reflexões resultantes de um longo processo com uma amplíssima participação, que serão de ajuda para o discernimento “tanto, quanto” nos permitam encontrar o que Deus pede do processo. É muito importante recordar também que o Sínodo é um instrumento para acompanhar o Papa em seu serviço à Igreja. Um fator determinante para que este dê bons frutos é a genuína disposição para a comunhão. Neste sentido, é bom retomar a seguinte referência do Concílio Vaticano II: “O colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o Romano Pontífice, sucessor de Pedro (…)” (Nº 22. Constituição sobre a Igreja. Cap 3. O Episcopado – CVII) 2. O Documento de Trabalho (Instrumentum Laboris) do Sínodo é o resultado de um processo intenso, sério e muito rezado, em chave de Colegialidade. É um documento elaborado depois de uma extensa consulta (talvez sem precedentes na história recente da Igreja) como já se expressou, e que foi refletido, debatido e aprovado por um Conselho Pré-Sinodal instituído pelo papa Francisco para esse fim. Nele participaram bispos representantes de instâncias especializadas que acompanharam a missão da Igreja nesse território; bispos com especial sensibilidade sobre o tema ou que aportam critérios a partir de outras realidades fora da Amazônia; autoridades e altos representantes de instâncias do Vaticano por sua relação com o tema; e o próprio papa Francisco que o preside. Assim mesmo, em apoio, participaram também a Secretaria do Sínodo dos Bispos como instância organizadora e especialistas do território e de Roma. O Documento de Trabalho (Instrumentum Laboris) do Sínodo é o resultado de um processo intenso, sério e muito rezado, em chave de Colegialidade – Maurício López É muito importante avaliar essa expressão de colegialidade e reconhecer sua riqueza, já que os questionamentos que possam vir deveriam sempre levar em conta o sentido colegial do processo, que é inerente ao modo de ser eclesial. Nesse mesmo sentido, ajuda a voltar às diretrizes do processo Conciliar do Vaticano II, as mesmas que seguem iluminando este e todo processo sinodal na sua preparação e ao se integrar em Assembleia: “Este colégio, enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus e, enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do redil de Cristo”. (Nº 22. Constituição sobre a Igreja. Cap 3. O Episcopado – CVII) 3. Mais além de conteúdos específicos do documento que são considerados “polêmicos”, ou a possível abertura para algumas vias ministeriais que respondam mais adequadamente à situação tão urgente e particular da Amazônia, o que ao aparecer subjaz muitas das preocupações sobre o IL é a tensão existente entre a revelação do Espírito e as mudanças que isso pode trazer a partir do sentido da fé do próprio Povo de Deus, seu “sensus fidei” e alguns elementos da Doutrina que, pensado para a Amazônia, requerem mudanças reais à luz de um sincero discernimento sinodal. No Concílio Vaticano II há uma afirmação que dá claras diretrizes nesse sentido, as quais nos podem ajudar a superar os temores e as tensões, e ao entrar com uma genuína atitude de discernimento à luz do Magistério: “O Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, (…). A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cf. 1Jo 2, 20; 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este, ‘desde os Bispos até o último dos leigos fiéis’ (22), manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes” (Nº 12. Constituição sobre a Igreja. Cap 2. O Povo de Deus – CVII). Esse ponto é retomado com clareza pelo papa Francisco no Nº 5 da Constituição Apostólica “Episcopalis Communio”. E nesse mesmo sentido, algumas linhas mais abaixo, no mesmo documento, afirma que o Espírito Santo não somente santifica e dirige o Povo Deus em sacramentos e ministérios, mas que: “‘distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz’ (1 Cor. 12, 11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja (…)” (Nº 12. Constituição sobre a Igreja. Cap 2. O Povo de Deus – CVII). Devemos caminhar sem medo do novo, a respeito de nossas fontes e nossas raízes, para que a presença de Deus no mundo, em suas aldeias e na Amazônia cresça mais forte, e a missão da Igreja pelo Reino seja fortalecida – Maurício López No Sínodo Pan-Amazônico, existe uma tensão natural e necessária entre o inescapável campo pneumatológico (da revelação de Deus no sentido da fé – o sensus fidei – através do povo que é infalível quando acredita) e suas implicações em algumas diretrizes doutrinais. Em um discernimento bem conduzido, um lado nunca tem a intenção de triunfar sobre o outro; de fato, não há lados opostos, porque se trata de buscar aquilo que mais leva ao projeto de Deus. Esse é o grande perigo com as posições que permanecem nos extremos ou em desqualificação, as quais não permitem o diálogo e não dão espaço para a novidade. O que se trata, e é ao que nos sentimos convidados a fazer, é identificar o próprio Deus neste caminho progressivo de revelação estabelecido na chave da fidelidade ao Espírito, e que é, portanto, também um enriquecimento para o avanço permanente da disciplina doutrinal que deveria ser como o sábado para o homem, e não vice-versa. Devemos caminhar sem medo do novo, a respeito de nossas fontes e nossas raízes, para que a presença de Deus no mundo, em suas aldeias e na Amazônia cresça mais forte, e a missão da Igreja pelo Reino de Cristo seja fortalecida neste território. Por: Maurício López — REPAM | Tradução: Wagner Fernandes de Azevedo Notas [1] Nos processos de consulta da REPAM, fizeram parte formalmente da escuta para o Sínodo, aproximadamente 87 mil pessoas. Das quais 22 mil em assembleias, fóruns e rodas de conversas, e pelo menos outras 65 mil nos processos preparatórios nos nove países da Pan-Amazônia. 90% do total de bispos amazônicos ou seus vigários participaram. E também, as próprias Conferências Episcopais fizeram seu próprio processo de consulta em alguns casos. Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

  • A infância de São Francisco

    Conhecemos bem pouco da infância de São Francisco, mas conhecemos a sua época, o que nos permite fazer algumas considerações. Francisco de Assis nasce em uma época de transição. O sistema feudal, baseado no acúmulo de terras, por parte de alguns, e do trabalho servil ou escravo, por parte da maioria, está sendo cortado por uma nova realidade, a classe dos artesãos e comerciantes que se organizam em pequenas cidades ao redor dos burgos (torres de vigia e fiscalização nas fronteiras de territórios ou próximas aos castelos dos senhores feudais), daí o termo burguesia. A terra está perdendo o seu “terreno” para o dinheiro. O pai de Francisco, Pedro Bernardone, é comerciante de tecidos, bem como importador. Também era fabricante de tecidos. Possuidor de considerável riqueza para a época, bem como de imóveis em Assis (algumas casas). Admirador do país, do qual trazia sua mercadoria mais lucrativa, apaixona-se e casa-se com uma dama francesa, Joana, de refinada educação e sensibilidade. Francisco nasce deste casal tão particular. O pai será caracterizado pela história como comerciante ávido de lucros e turrão, o qual não aceita prejuízos, mesmo assim faz muitas das vontades dos filhos. Joana, ao contrário, preocupa-se com os filhos, de modo especial com a fragilidade aparente de Francisco, educando-os com modos refinados da corte francesa, beirando ao mimo. Ao nascer, Francisco recebe o nome de João, dado pela mãe. O pai, ao retornar de viagem, muda para Francisco, em homenagem à França. Ele é o primogênito da família. Sabemos que teve ao menos mais um irmão, Ângelo. Sendo filho de comerciante, não tem a necessidade de trabalhar na terra, como os filhos dos servos agricultores. O que fazia então? Olhando para a pequena cidade de Assis, construída na encosta do monte Subásio, na região da Úmbria, na Itália, encontramos ruazinhas estreitas interligadas por passagens em degraus entre as casas. Não é difícil imaginar crianças brincando, correndo e inventando o que fazer, antes ou depois da escola, na Igreja São Jorge (atual mosteiro das Irmãs Clarissas). A aparente tranquilidade é quebrada volta e meia por conflitos internos, entre grupos da própria cidade de Assis, e externos, principalmente com Perúgia, cidade vizinha. A época de Francisco será entrecortada por guerras e disputas feudais e de classes. O seu pai estava implicado diretamente em algumas delas, sendo considerado liderança entre os comerciantes e artesãos de Assis. A vida política está dividida entre dois partidos os Maiores (senhores feudais e nobres) e os Menores (artesãos, comerciantes e povo). Deste modo, também não é difícil imaginar muitas brincadeiras interrompidas ou proibidas por motivos de segurança. A vida de fé também é bastante cultivada. Tanto pela força materna, como pela presença eclesial. Assis possui uma Catedral e uma Igreja paroquial (São Jorge) dentro dos muros, e fora, no campo, São Damião e Santa Maria dos Anjos (Porciúncula). É uma época marcada pelo ritmo litúrgico, na comemoração dos santos e festividades, peregrinações. Francisco, com a família, participava assiduamente aos eventos religiosos, momento importante de mostrar a grandeza da família e de fazer doações para estar em dia com as obrigações de cristão. Francisco foi educado neste ritmo, no embalo dos santos, dos sonhos dos ideais de uma vida conduzida pela fé. As festas religiosas, porém, eram mais um momento de diversão para as crianças, pois os conflitos eram controlados e os festejos populares tomavam conta da cidade com danças, apresentações, jogos... O que não significava a diminuição das desavenças e dos desafetos entre famílias e classes sociais. Francisco verá a família de Clara ser expulsa de Assis, quando ela tinha oito anos. Pedro Bernardone estava envolvido nisso. Francisco de Assis não era uma criança diferente das demais crianças, mas assumirá sempre mais a postura de liderança no seu grupo, desde pequeno, pois assim via o seu pai, mas cultivará dentro de si também os valores aprendidos de sua mãe, mesmo que se manifestem mais tarde, quando lutará pela paz em diversos momentos. Em sua infância será marcado pelas contradições de sua sociedade, que lhe fará, na vida adulta, distanciar-se de valores e de procedimentos que levam ao acúmulo de bens e ao desprezo do diferente. Isso nos faz pensar que, apesar de uma infância “normal”, algo não o satisfazia. Nas vielas e ruas estreitas de Assis, nas brincadeiras com os amigos, na escola ou na Igreja, Francisco vislumbrava um mundo novo, um mundo em mudanças, como a sua cidade que muda de cor (do rosa ao laranja) conforme o sol vai traçando o seu curso diário e iluminando as pedras com as quais Assis é construída. Frei Arno Frelich OFM

  • São Francisco e a pobreza

    É impossível falar da história de São Francisco sem fazer referência à pobreza. A pobreza está no coração do movimento franciscano. E o que mais encanta, atrai e fascina as pessoas é que Francisco não nasceu pobre, mas se fez pobre. Francisco, por diversas circunstancias, entre elas, ter ido para a guerra, ter sido preso e também pela fragilidade da sua saúde; acabou chegando ao limite da sua condição humana. E ao chegar nesse limite tornou-se sensível para vida e para Deus.Abriu-se para algo que até então não havia percebido. No centro da conversão de Francisco esta o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Francisco passa a enxergar o evangelho com outros olhos. O cristo que antes era apenas Jesus, agora é Jesus Cristo POBRE, HUMILDE E CRUCIFICADO. E este agora fala com Francisco não só pela palavra, a Bíblia, ou pela boca dos pregadores, mas começa a manifestar-se através de toda a criação e especialmente nos mais pobres e humildes. Francisco intui que Deus, mesmo na sua grandeza, se fez pobre, pequeno, e percorreu todo um caminho até doar-se humildemente como pobre na cruz. A partir desta percepção, é que Francisco começa a trilhar o seu árduo caminho de conversão para a pobreza. Podemos entender a pobreza franciscana a partir de dois fatos da vida de Francisco. O primeiro quando ele, em praça pública, fica nu diante de todos devolvendo tudo para o seu pai e declarando-se na presença do bispo inteiramente livre nos braços do grande PAI. Coloca-se totalmente nos braços de Deus despojando-se de todos os bens paternos que tinha direito. Desfazer-se de bens, viver com o mínimo, não ter nada em seu próprio nome; a partir desta ótica a pobreza franciscana pode ser considerada apenas o NÃO TER. Mas a pobreza Francisca ultrapassa o apenas não ter. E aí podemos lembrar o encontro de Francisco com o leproso. Francisco encontra o leproso, o olha, desce do cavalo, aproxima-se dele e o abraça. Nessa ótica a pobreza Franciscana exige de nós a atitude do “fazer-se igual ao outro”, aqui no caso, fazer-se igual aos mais necessitados, colocar-se em pé de igualdade com eles, acolhê-los e especialmente caminhar junto deles. Comungar da mesma sorte e da mesma luta, sonhos, anseios e desejos. Não apenas como um ideal ou por simples caridade. Mas porque o outro tem a mesma dignidade e direito de filho de Deus como eu. Somos iguais. Fica aí o desafio para nós seguidores de Francisco: Realizarmos o mesmo caminho de conversão do Santo de Assis em direção aos pobres do nosso tempo, caminho este que nos exige força de vontade, mudança de valores e especialmente muito amor, tendo sempre o evangelho como orientação. Paz e Bem! Frei Franklin Freitas OFM

  • Carta do Ministro Geral pela celebração dos 800 anos do encontro de São Francisco com o Sultão.

    Carta do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores por ocasião do 800º aniversário do encontro de São Francisco e o Sultão al-Malik al-Kamil Meus queridos irmãos da Ordem dos Frades Menores, todos os irmãos, irmãs e amigos da nossa Família Franciscana, e todos meus irmãos e irmãs muçulmanas, O Senhor lhes dê a sua paz! Oitocentos anos atrás, nosso seráfico Pai São Francisco navegou rumo ao Egito, realizando o antigo sonho de ir ao encontro dos muçulmanos. Ele chegou ao campo das cruzadas, entre os Cristãos Latinos que por anos pregaram e usaram a retórica da guerra santa para ensinar o desprezo pelos muçulmanos. Os mesmos muçulmanos tinham toda razão para desprezar Francisco, considerando que ele, como todos aqueles no campo das cruzadas, era um inimigo e não um portador de paz. Nós hoje celebramos o que ninguém naquele momento poderia prever: que um homem repleto do Espírito, sem nada consigo mesmo atravessou as linhas de batalha desarmado para pedir um encontro com o Sultão, que foi recebido com benevolência pelo Sultão, alegrou-se por permanecer um considerável período de hospitalidade com o líder muçulmano e dessa visita surgiu nova ocasião para refletir sobre a missão dos Frades Menores. Francisco retornou são e salvo para a sua terra profundamente comovido pelo encontro e desenvolveu uma nova e criativa visão sobre como os seus irmãos poderiam ir entre os muçulmanos, sobre as coisas que os Frades poderiam fazer e dizer “que agradassem a Deus” (quae placuerint Domino, RnB 16,8). O aniversário do encontro de Francisco com al-Malik al-Kamil em Damieta em 1219 nos convida a perguntarmo-nos de novo quais ações e palavras que agradariam a Deus no meio do pluralismo e da complexidade do mundo de hoje. Discernindo os sinais dos tempos (Mt 16,3), a Igreja incrementou e evidenciou o diálogo inter-religioso como um elemento essencial da sua missão hoje. O Concílio Vaticano II exortou os fiéis cristãos para engajarem-se no “diálogo e na colaboração com os sequazes de outras religiões, com prudência e caridade, dando testemunho da vida e fé cristãs” (Nostra Aetate,2). Em particular, o Concílio ensinou que a Igreja em relação aos muçulmanos tem muita “estima” e incita os cristãos a trabalhar com os seus irmãos e irmãs muçulmanas para promover a justiça social e o bem-estar moral, a paz e a liberdade, para o benefício de todos (Nostra Aetate,3). São João Paulo II projetou a sua missão de diálogo no futuro de seu ministério como Bispo de Roma, mui especialmente quando ele chamou os líderes religiosos do mundo para a nossa casa espiritual, Assis, para testemunhar lá a transcendente qualidade da paz. Para aqueles que foram para rezar pela paz, a “permanente lição de Assis” consiste na “mansidão, humildade, profundo sentido de Deus e compromisso de servir a todos” (João Paulo II, Discurso de Assis, 27 de outubro de 1986). Os Papas Bento XVI e Francisco, do mesmo modo, convidaram os líderes religiosos para fazer uma peregrinação em Assis e rezar pela paz, e o Papa Francisco invocou a intercessão do “Poverello” durante a sua viagem ao Egito, rezando para que cristãos e muçulmanos verdadeiramente chamem-se uns aos outros de irmãos e irmãs, vivam em uma renovada fraternidade sob o sol do único misericordioso Deus (Francisco, Discurso para a Conferência Internacional pela Paz, 28 de abril de 2017). Isto é então a Igreja universal chamando a Família franciscana para animar estas fraternidades inter-religiosas no espírito pacífico de nosso Seráfico Pai. A Igreja nos chama a ressuscitar este momento fundamental de nossa história, a viagem de São Francisco ao Egito, para abrir em nós mesmos de novo a transformação que o Santo de Assis experimentou, e para caminhar juntos com muçulmanos e pessoas de outras crenças como colegas de viagem, como construtores de civilização e, mais ainda, como irmãs e irmãos, filhos de Abraão, nosso pai na fé. Eu encorajo a Família Franciscana para celebrar este aniversário como um momento em que a luz do Evangelho pode abrir nosso coração para ver a “imago Dei” na pessoa que é vista com medo e desconfiança, ou pior ainda, na pessoa que se incentiva para odiar. Para este fim, um grande número de recursos foi preparado para ajudar a todos inspirados por este encontro a comemorá-lo em um caminho apropriado. Acompanhando esta carta estão as intercessões que encorajo os Frades a usarem durante a Liturgia das Horas durante este ano de comemoração, as intercessões que podem ser usadas em uma variedade de ocasiões ministeriais quando apropriadas. Em abril, a Cúria Geral disponibilizará on-line um livro de recursos, preparado pela Comissão Especial para o Diálogo com o Islão, que trará uma base histórica, perspectivas franciscana e islâmica do encontro e outros materiais para comemorar Damieta. Em outubro, nossa fraternidade de Istambul, uma comunidade de Frades especialmente dedicados ao diálogo ecumênico e inter-religioso, será anfitriã de uma assembleia dos Frades que trabalham em países onde existe a maioria mulçumana. A Pontifícia Universidade Antonianum, igualmente, organizou uma série de eventos públicos em diversos países durante o curso deste ano comemorativo. Seja acadêmico ou pastoral, eu os encorajo a participar ativamente nestes ou em outros eventos e ainda a verificar criativamente como a sua comunidade local poderia comemorar Damieta à luz da realidade local. Este aniversário oferece uma oportunidade única para a colaboração entre os diversos ramos da Família Franciscana. Muitos Frades, Irmãs e participantes de movimentos franciscanos e promotores do diálogo muçulmano-cristão prepararam publicações para divulgar durante este aniversário; eu convido vocês todos para reservar um tempo deste ano para uma reflexão estudada e rezada sobre como, em sua situação local, pode viver de novo em você a coragem e a abertura ao Espírito vista no Delta do Nilo há muito tempo atrás. A Cúria Geral é entusiasta em partilhar as notícias de cada esforço para construir pontes de compreensão inter-religiosa. Por isso, peço que nos informem sobre os eventos e iniciativas para comemorar Damieta em sua comunidade e nas várias Entidades dos Frades Menores. Nós vivemos em um tempo em que pessoas de várias crenças divulgam uma demonização dos muçulmanos e incitam outros a terem medo deles. Além do estudo e da oração sobre os temas do encontro e diálogo, eu encorajo os seguidores de Francisco que carecem de um contato pessoal com o Islão a retomarem a experiência de nosso fundador dando um simples e concreto passo: encontrar um muçulmano. Vá conhecê-lo ou conhecê-la, além de ter um prazeroso e refinado encontro social para um café ou chá. Tentar aprender ou apreciar o que a experiência de Deus anima nele ou nela e permitir que o seu amigo muçulmano veja que o amor de Deus jorrou em seu coração através de Cristo. Apesar do Concílio Vaticano II insistir que os muçulmanos, como nós, “adoram o único e misericordioso Deus” (Lumem Gentium 16), muitas vozes de qualquer modo, infelizmente, insistem que o diálogo entre cristãos e muçulmanos é impossível. Muitos contemporâneos de São Francisco e do Sultão concordavam, vendo conflitos e confrontos como única resposta para mudar a situação. Os exemplos de Francisco e do Sultão testemunham uma opção diferente. Alguém não pode insistir por muito tempo que o diálogo com os muçulmanos é impossível. Nós vimos isto e continuamos vendo na vida de muitos Franciscanos e de seus irmãos e irmãs muçulmanas que, com coração sincero e amável, partilham os dons que Deus lhes deu através de suas respectivas crenças. Fidelidade na visão de Francisco envolve partilha com humildade. De fato, o dom característico cristão que nós temos que partilhar com nossos irmãos e irmãs muçulmanas não é meramente um cristão humilde, mas a experiência de um Deus humilde. Único em sua época, Francisco louvou a Deus dizendo: “Tu és humildade” (LD 4) e falou sobre a “sublime humildade”, a “humilde sublimidade” de Deus (CtO 27). A busca do coração cristão por Deus encontra repouso na humildade da manjedoura e da cruz, sinais de um Deus que curvou-se para servir e humilhou-se por amor à humanidade. Francisco nos convida a refletir sobre esta humildade de Deus onde encontramos um primeiro passo no serviço e no amor. Além disso, a fidelidade na visão de Francisco nos chama a receber os irmãos e irmãs de outras crenças tradicionais com o sentido de reverência (CCGG 93,2; 95,2), com coração e mente abertos à presença de Deus naquele que encontramos. Eu reconheço que existem muitos na Família Franciscana que vivem como minoria em sua terra natal ou de adoção, que se encontram atingidos por conflitos políticos e sectários, e podem sentir-se ameaçados pela violência, como acontece hoje com muitos na terra que Francisco visitou um dia. Em alguns países, cristãos e muçulmanos partilham os sofrimentos da injustiça social e da instabilidade política. Eu convido vocês a refletirem sobre um outro nome que Francisco usou em seus Louvores a Deus Altíssimo: “Tu és paciência” (LD 4), ou como os muçulmanos invocam a Deus: Yā Ṣabūr (Alguém paciente!). Francisco mesmo aprendeu a virtude da paciência através de seu ministério junto aos leprosos, através das mudanças de suas viagens e através do rumo que tomou a sua Ordem no final de sua vida, quando os próprios irmãos abandonaram alguns dos ideais que ele nutria com carinho. Francisco meditou longamente sobre o amor paciente de Cristo mostrado em sua paixão, identificando eventualmente a paciência como um atributo de Deus misericordioso. “Tu és paciência”. Deus segue um programa desconhecido para nós e Ele comove os corações de homens e mulheres em caminhos desconhecidos para nós. Francisco esforçou-se para compreender o plano de Deus para aqueles que abandonaram o seguimento de Cristo como Senhor, e Francisco encontrou refúgio na oração de louvor que Deus é paciente. Que Deus nos dê a graça da paciência para que cada um de nós possa aprender a viver juntos. Aos nossos irmãos e irmãs muçulmanas quero dizer como nos recordamos calorosamente da hospitalidade oferecida ao nosso Santo Pai Francisco quando a sua vida corria risco. O interesse que muitos muçulmanos demonstraram em comemorar este aniversário testemunha o desejo de paz expresso muitas vezes por eles ao acolher alguém de outra crença. Eu rezo para que este ano possamos aprofundar os laços de fraternidade partilhado sob os olhos de Deus criador de todas as coisas nos céus e na terra e que este laço continue se fortalecendo depois de 2019. Deus poderia ter-nos feito todos iguais, mas não o fez (Al-Shūrā 42.8). Com vocês, seus irmãos e irmãs franciscanas são entusiastas em mostrar para o mundo que os cristãos e os muçulmanos podem e vivem lado a lado em paz e harmonia. Concluindo, nunca nos esqueçamos que o exemplo de São Francisco foi a vida de conversão permanente. Como um jovem, ele repugnava os leprosos, mas uma ação de misericórdia mudou o seu coração e “o que me parecia amargo tornou-se doçura” (Test 3). Este momento, o início da vida de penitência de Francisco, é intimamente ligado à experiência de Francisco em Damieta em 1219. O coração de Francisco abriu-se aos leprosos antes e, quando ele encontrou-se na presença de um muçulmano que aprendera a odiar, abriu-se mais uma vez. O chamado bíblico à conversão (heb. shuy; aram. tuy) ecoa no Corão como repetido comando para retornar a Deus (tūb), para evitar o mal com a bondade e atos de caridade para com os mais vulneráveis da sociedade. Os crentes de hoje – independente do nome que eles usam para Deus e do modo com o qual o adoram – são chamados a ter a mesma coragem e abertura de coração. Em meio a um crescimento da compreensão inter-religiosa no mundo, que o nosso Deus humilde, paciente e misericordioso nos mostre a todos atos e palavras que mais lhe agradam. Toda paz e todo bem, Frei Michael Anthony Perry, ofm Ministro Geral e Servo

  • Jovens de Agudo participam das Missões Franciscanas da Juventude no RJ

    De 17 a 21 de julho está acontecendo a 6ª edição das Missões Franciscanas da Juventude dos freis franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil. O tema das missões este ano é Profetas do diálogo e do respeito: ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência”. As missões, que este ano acontecem na cidade do Rio de Janeiro, recebem mais de 600 jovens missionários. Daqui do Rio Grande do Sul participam 04 missionários oriundos do grupo JUMC da Paróquia São Bonifácio de Agudo. No primeiro dia das missões, na catedral São Sebastião do Rio de Janeiro, os jovens pediram pelo fim da mortandade das juventudes. Um dos momentos de maior comoção foi a recordação e encenação da morte do jovem Marcus Vinicius, de apenas 14 anos, enquanto ia para a escola na favela da Maré. Rezemos pela juventude missionária que, a exemplo do que nos pede o papa Francisco, se coloca em missão como uma Igreja Jovem em Saída para anunciar e testemunhar a Paz de Jesus Cristo.

  • JUFRA regional realiza encontro em Horizontina

    Nos dias 13 e 14 de julho de 2019 aconteceu o IV Encontro de Formação Regional da Juventude Franciscana na Paróquia Nossa Senhora do Rosário em Horizontina/RS. Com o Tema: "JUFRA e a promoção da paz: Por uma cultura de não-violência!", a JUFRA do Rio Grande do Sul dialogou e refletiu sobre a situação da nossa juventude no país que tem a 7ª maior taxa de homicídios de jovens de todo o mundo, segundo dados da UNICEF de 2017. Com um lema inspirado em São Francisco de Assis, ao dizer: "Assim como anunciais a paz com a boca, tende maior paz no coração" (AP 38, 7), repensamos nossa postura e atitude enquanto franciscanos ao analisar a violência e situação social que vivemos. O encontro iniciou no sábado de manhã com a acolhida e apresentação dos participantes. Durante a tarde foi realizada a apresentação do tema do encontro e oficinas sobre violência psicológica, racial e escolar. No final do dia, a mística foi conduzida a partir da pergunta: "Qual o grito da nossa juventude?", momento de conhecer o rosto da violência no Brasil e o que nos inspira o Evangelho a fazer. No domingo, após a missa, cada oficina partilhou sobre sua temática e as diversas situações do cotidiano que as identificamos. O encerramento apresentou dados sobre a violência no Brasil e cada participante refletiu e partilhou sobre os motivos pelos quais lutar, na construção de um mundo melhor. Este encontro, além de ser formativo, é um espaço de confraternização e alegria entre as fraternidades do Regional Sul 3, para troca de experiências e criação de laços mais fortes entre os jufristas de nosso regional. Em momentos como este, percebemos o quanto nosso carisma é lindo e nossa juventude é diversificada, nos fortalecendo ainda mais na nossa caminhada como Juventude Franciscana. Dentre os diversos tipos de violência que identificamos, uma delas age silenciosamente: a omissão. Enquanto franciscanos e jufristas, não devemos ser omissos e ignorar a dura realidade que nos envolve. Temos o dever de agir, lutar e nos posicionar por todos os irmãos e irmãs, na garantia dos direitos humanos e pela dignidade de cada um. A nossa luta é pelos que mais precisam e mais são humilhados, pelos excluídos e marginalizados, por todos aqueles que são vítimas e não estão mais aqui para lutar. Inspirados por Francisco de Assis, queremos ser anunciadores e testemunhas da Paz e do Bem no mundo em que vivemos. "Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia a dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza" (Papa Francisco). Katherine Esper - Secretaria Fraterna Regional da JUFRA

  • Discípulos-missionários essência do ser cristão

    14º DOMINGO DO TEMPO COMUM Leituras: Is 66,10-14c; Sl 65,1-3ª.4-5.6-7ª.16.20; Gl 6,12-14; Lc 10,1-12.17-20 Tema-Mensagem: Discípulos-missionários essência do ser cristão Sentimento: gratidão-alegria Introdução Nada melhor para nos introduzir na alegria do mistério que celebramos neste domingo do que a primeira frase do Evangelho proclamado hoje: O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e a todo lugar aonde Ele próprio devia ir. 1. Chamados-enviados - discípulos-missionários (Lc 10,1-12.17-20) É próprio dos grandes mestres dizer muito ou tudo no pouco. É o que faz Jesus no evangelho de hoje. Em meia página, diz toda a nossa identidade de cristãos: chamados-enviados, discípulos-missionários de sua pessoa e de sua mensagem. 1.1. Ir pelo mundo sem nada A maneira como Jesus apresenta a evangelização e a identidade dos seus seguidores, parece muito pouco quando a contrastamos com a nossa, hoje, fortemente carregada de conteúdos, doutrina, tratados, verdades, métodos e estratégias. Quem compreendeu e fez isso muito bem foi São Francisco. Parafraseando o evangelho de hoje, num breve texto de apenas cinco linhas e com o título Como os Irmãos devem ir pelo mundo (RNB 14) disse tudo. O texto original latino da Regra diz debeant e não debent. Literalmente dever-se-ia traduzir por devam. Devam, ao invés de devem, aponta para a dinâmica da exortação ou da convocação de uma responsabilidade que brota da afeição interior que tem sua origem na graça do encontro e não de uma imposição forçada, vinda de fora, de estranhos como, por exemplo, de um patrão ou chefe. Em outras palavras, a missionariedade cristã, segundo São Francisco, tem sua origem no cultivo da própria identidade cristã ou crística, que, por sua vez, nasce do vigor da gratuidade do encontro do chamado e da resposta. O modo, porém, só se torna atual e atuante quando assumido e concretizado pelo evangelizador; é na medida em que ele com-forma todo o seu ser com a verdade mais profunda Daquele que o chamou que vai acontecendo a evangelização. Em outras palavras, bom missionário, diz São Francisco, é aquele que cuida bem de sua forma de vida. E qual é esta forma de vida? O seguimento radical que Cristo expressou com a exortação: Não leveis nem sacola, nem alforje, nem sandálias... Desse princípio percebe-se claramente que o protagonista da evangelização jamais é o evangelizador com sua sabedoria, competência ou recursos e nem mesmo o evangelizando com sua cultura, sua linguagem, costumes, disposição ou boa vontade, mas sim, o mistério originário que a ambos e a tudo envolve: Jesus Cristo crucificado, a Sabedoria de Deus, revelação suprema do sem nada de próprio do próprio Pai (Cf. 1Cor 1,17). Esse modo de ser missionário vem muito bem descrito pelo Apóstolo Paulo: Quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloqüência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado (1Cor 2,1-2) Antes de nossa evangelização existe, pois, o envio, a missão de Deus mesmo, que nos escolhe, elege e enxerta em Jesus Cristo supremo, único e verdadeiro Enviado e Missionário do Pai. Nosso Deus, diz a Escritura, é um Deus adveniens, isto é, Deus que sempre ad-vem para o íntimo de cada criatura e de cada um de nós, seus filhos queridos. Um “Deus em saída”, como gosta de dizer nosso Papa Francisco. Eis o princípio, a origem e o fim de todo chamado-enviado, discípulo-missionário, enfim a fonte de toda missão e evangelização cristã. 1.2. Dizer sempre: Paz a esta casa! Assim, quando Cristo, e depois Francisco, diz que os discípulos (os frades) devem ir pelo mundo sem sacola, nem alforje..., mais que um movimento físico-geográfico, está convocando-os a ver, descobrir em cada pessoa, criatura ou situação, em cada cultura, povo ou mentalidade a pa, a misericórdia do Pai. Jesus, e depois Francisco, ordena: Dizei. Dizer, porém, antes de mero meio de comunicação é empenho para fazer vir à fala, à luz, todo um mundo, toda uma realidade que está aí, esperando ser despertada do sono de sua existência originária. Pois, tudo o que está aí, à nossa frente, a modo de caos ou ordem, pecado ou graça, presta-se a mil e uma possibilidades ou mundos. Como na criação, quando Deus em dizendo faz surgir do caos um mundo de criaturas mil, uma ordem admirável de milhares de seres irmanados na diversidade, agora o evangelizador é convocado e enviado, como Cristo, para acordar este mundo da paz, da ordem no qual todas as criaturas estão mergulhadas e assentadas. Enfim, fazer ressurgir o paraíso que se perdera. Assim, a missionariedade cristã e franciscana deve ser caracterizada, antes e acima de tudo, em nada levar ao evangelizando, nem mesmo a paz. Pois é da convicção dela que o evangelizando já está na paz do Senhor. Como Jesus Cristo que, em vindo no meio do silêncio da noite, também o discípulo do Senhor, o franciscano, no silêncio de sua humilde e escondida presença, não se faz de agente ou promotor da paz, mas, apenas a procura como tesouro escondido e encarnado em toda e qualquer situação, circunstância ou criatura, mesmo naquelas que, aparentemente, como Judas e os algozes de Jesus, parecem enraizadas na mais profunda discórdia, divisão ou belicosidade. Sua primeira e mais fundamental missão é, pois, apenas dizer: Paz!, Ou seja: que jamais digam que aqui ou ali não há paz, ou que aqui e ali não é possível a paz. Dizer “Paz” ou “Bem”, significa, enfim, crer que na raiz de todas as criaturas e acontecimentos está o vigor da misericórdia do Pai, o sumo Bem, o Bem inteiro, o único bem (LH Oração), trazido e encarnado no mundo por seu Filho Jesus Cristo crucificado, o reconciliador (pacificador) de todas as criaturas. 1.3. Comam e bebam do que lhes for oferecido Dita a saudação da paz, Jesus ordena aos discípulos e depois Francisco aos frades, que comam e bebam do que lhes for servido. Chama-nos a atenção que Jesus e Francisco se expressem novamente num tom de convocação e não em termos meramente condicionais. Estamos diante de um mandato: que se coma e se beba. Mas, no humano, antes de um fenômeno meramente biológico, comer sempre está referido ao sentido da vida. Assim, quem deseja ser monge ou bailarino não vive de churrascos e cervejadas. Cada profissão pede e exige seu pão, sua bebida própria e adequada. Por isso Jesus diz que seu alimento e nosso pão de cada dia é fazer a vontade de seu Pai. Qual seria, então, o pão, o alimento que devem sustentar e fortalecer a caminhada missionária do cristão? A resposta é simples e lacônica: o que lhes for servido, diz Jesus e depois Francisco. E o que lhe será servido o missionário não pode saber nem imaginar, muito menos determinar ou querer com antecedência. Em outras palavras, o Mestre está desafiando o discípulo-missionário a aprender a revigorar-se no modo de ser do próprio Deus: sem nada de próprio, acima descrito. Na Última Ceia, quando o Senhor faz aos Apóstolos o testamento de sua missão, ordena que comam e bebam do seu corpo e do seu sangue, isto é, que busquem, sempre e tão somente, como sua única comida e bebida, a dinâmica de sua Cruz. Quem quisesse ir pelo mundo em seu nome devia, também, como Ele, alimentar-se, sempre e tão somente daquilo que os homens lhe apresentassem, fosse acolhimento ou rejeição, bênção ou maldição, graça ou cruz, vida ou morte. Em outras palavras, a essência da evangelização é a celebração ou o cultivo da eucaristia, da caridade pura, limpa, inocente. É por isso, também que no início do discurso Ele os envia “dois a dois”. Se fossem um por um, sozinhos, como os discípulos iriam aprender a lavar os pés, fazer o exercício da caridade, essência de toda a evangelização? 1.4. Ficai alegres porque vossos nomes estão inscritos no céu A última parte doa perícope do evangelho começa falando da possibilidade da rejeição. No centro desta exortação Jesus ordena que neste caso os discípulos devem jogar fora ou sacudir até mesmo a poeira, o pó, o lixo daquela gente que se apegou em seus pés. Em outras palavras, Jesus está dizendo que não se deve perder tempo, muito menos a paz interior com proselitismos, mágoas ou desgostos que às vezes os aparentes fracassos da missão nos proporcionam. Ao evangelizador não compete ficar medindo ou buscando resultados, muito menos insistindo a modo de impertinente negociante, quase que exigindo que o infiel abrace a fé ou se converta. Ao evangelizador basta anunciar o Evangelho. Se aqui não nos aceitam, vamos adiante pois a messe é grande e poucos os trabalhadores. Em seguida, ao contentamento dos discípulos por causa do sucesso, Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu como um relâmpago”. Tendo em mente que a essência de toda a evangelização não é outra senão o mistério ou caminho da humilhação de Deus manifestados na encarnação e na cruz, é evidente que todo Demônio da prepotência, da soberba caem por terra, de supetão, como um raio quando se faz este anúncio. Mas, logo acrescenta duas coisas importantes. Primeiramente que este poder é Dele e não deles e que, enfim, deviam estar alegres, não porque os espíritos lhes obedeciam mas porque “vossos nomes estão inscritos no céu”. Ou seja, Ele está chamando a atenção que o princípio de toda esta maravilha está no “céu”, isto é, no Pai em cujo coração estão gravados os nomes, as pessoas deles, seus eleitos, sua propriedade amada. 2. Jerusalém a mãe que consola, amamenta e carrega seus filhos (Is 66,10-14c) A primeira leitura de hoje é de Isaias, mais precisamente, do final das profecias referentes à consolação. Jerusalém é vista como uma mãe solicita e cheia de felicidade, uma mãe generosa que oferece aos filhos o seio de seu ventre a fim de que lhe suguem a consolação, a paz. Jerusalém que provara durante séculos o amargor da escravidão da desolação provará em breve a paz. Eis uma bela e antiga figura da Igreja como “mãe e mestra“ (João XXIII). “Uma Igreja de coraão aberto” e “em saída, com as portas abertas”. Uma Igreja que sai “em direção aos outros para chegar à perderias humanas... Uma Igreja chamada a ser sempre a casa do Pai“ (EG 46-47). 3. Paulo o Evangelho vivo (Gl 6,12-14) A segunda leitura vem do Apóstolo Paulo, o escolhido como um abortivo (1Cor 15,8) para ser enviado aos gentios. Em contraposição de outros evangelizadores – os judaizantes, que anunciavam a lei e a circuncisão como meios de salvação - Paulo faz questão de insistir: “Quanto a mim que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo”. Eis, mais uma vez, o protagonismo do chamado e da evangelização: Jesus Cristo crucificado. Aqui chegamos ao sumo, ao objetivo maior de todo evangelizador e de toda a sua evangelização: identificar-se com o único chamado-enviado, discípulo-missionário: Jesus Cristo Crucificado. Assim Paulo e mais tarde Francisco, carregando no próprio corpo os sinais da Cruz, não são mais apenas evangelizadores, mas o Evangelho vivo. De si mesmo Paulo proclama: Doravante, que ninguém me moleste, pois eu trago em meu corpo as maras de Jesus” (Gl 6,17). E de Francisco, São Boaventura diz que o amor de Cisto havia transformado o amante na própria imagem do amado... Frâncico, pregado na carne e no espírito com Cisto na cruz, não só ardia no amor seráfico por Deus, como também sentia a mesma sede de Cristo pela salvação dos homens (LM 15,3.5; 14,1). A essência e o fruto de toda evangelização, portanto não é outra senão a identificação do evangelizador com Aquele que o envia e com sua mensagem. Assim, evangelizador antes de meio, instrumento ou herói, é essencialmente um testemunho ou mártir. Por isso, se no primeiro caso o evangelizador como instrumento vai se gastando e se desgastando até tonar-se inútil, no segundo vai se plenificando até o ponto de ser um com seu senhor. Na evangelização, quem mais se evangeliza não é o evangelizando mas o evangelizador. Conclusão Ao fazer menção do “céu” no final de seu discurso missionário, Jesus, nos remete para a fonte de toda a evangelização. Mais que um lugar ou tempo depois da morte, céu é o mistério insondável da origem de tudo e de todos: a Trindade santa. Por isso, em outras ocasiões Jesus ordenara que os discípulos fossem pelo mundo inteiro para batizar a todos os povos “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Quem compreendeu bem esta origem e a essência de toda a evangelização foi São Francisco, como podemos ver neste belo resumo de pregação que redigiu para todos os frades: Todos os meus irmãos, sempre que lhes agradar, podem anunciar estas ou semelhantes palavras de exortação e louvor a todos os homens, com a bênção de Deus: “Temei e honrai, louvai e bendizei, rendei graças e adorai o Senhor Deus onipotente na trindade e na unidade, Pai, Filho e Espírito Santo, o criador de todas as coisas” (RNB 21). Fraternalmente, Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini.

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