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O ROSÁRIO COMENTADO DO PONTO DE VISTA BÍBLICO - PARTE 5


Os mistérios do terço, como é de conhecimento, antes de São João Paulo II, ignoravam a vida pública de Jesus e seus grandes anúncios e instituições para o novo reino. Por isso São João Paulo II instituiu outras cinco dezenas de ave-marias para refletirem sobre esses mistérios.


2.1. O batismo de Jesus no Rio Jordão (Mt 3,13-17)


O texto fala de um batismo de penitência ao qual também Jesus se submeteu. Ele era uma recordação celebrada na Igreja primitiva à qual todo o convertido devia também submeter-se. O acento, no entanto, caiu sobre a abertura do céu, a descida do Espírito e a voz celeste.

Hanna Wolf, afirma, segundo escreve Pagola, que "Jesus foi a primeira pessoa na história que viveu e comunicou uma sã experiência de Deus, sem projetar sobre a divindade os medos, fantasmas e ambições dos seres humanos" (Pagola). Continua Pagola dizendo que a experiência vivida de Jesus em relação Deus é como a um Pai. Nunca o invoca como Deus e Senhor, mas como "pai" (abbá). Ele se confia a Deus como filho querido, não um Deus individualista e excludente, mas como Pai de todos povos como também de todas as criaturas e que "faz nascer o sol sobre bons e maus". É desta ótica universal que Jesus vive Deus. Experiência que Jesus fez de Deus, não é de um Deus tapa-buracos que preenche os vazios interiores e os medos. Ele vê Deus como pai justo, misericordioso, bondoso e que procura contagiar a humanidade com esses atributos. Jesus vem ensinar-nos a abrir-nos a Deus de maneira confiante a fim de que se possa libertar de um conjunto de ensinamentos, importantes sim, mas que se deve viver não apenas como fieis cumpridores de regras, normas e preceitos, mas no seu dinamismo interior que, de dentro, nos leva a amar, confiar e esperar sempre no Deus revelado em Jesus Cristo. "Como crente é viver permanentemente à escuta do Deus encarnado em Jesus, aprendendo viver dia a dia de maneira mais plena e libertada" (Pagola). A vida de fé não consiste de certezas, mas é feita, sobretudo, de fidelidade ao Deus que vai se manifestando a nós por meio de seu Filho Jesus Cristo.


2.2. A revelação de Jesus nas Bodas de Caná (Jo 2,1-11)

A transformação da água em vinho foi o primeiro "sinal" de Jesus. Não foi nem "milagre" e nem "prodígio". O evangelho de João diz que foi um "sinal". O primeiro dos "sinais". "Sinal" contém em si algo muito mais profundo do que os olhos podem ver. O casamento era a festa mais esperada e celebrada entre os camponeses. Como mais da metade da população morria antes dos dezoito anos, era um acontecimento de suma importância para a continuidade do grupo social. Durava vários dias. A vizinhança celebrava e compartilhava a vida com o novo casal com cantos e danças tradicionais para a ocasião.

Mas, para ser uma festa de casamento, onde estão os noivos? Eles deveriam ser o centro da festa. Mas eles não têm nome e nem rosto. Convidados importantes? Só Jesus! Isso nos aponta para algo de novo que deve ser desvendado ou revelado. A perícope está cheia de elementos e gestos simbólicos.

Diz o texto que faltou vinho. Isso era imperdoável num casamento: faltar "o vinho que alegra o coração do homem". Estavam na casa seis talhas (bilhas grandes) de pedra que eram usadas para guardar a água para os rituais de purificação dos judeus. A água era produto raro na região.

A lei dos judeus também estava escrita sobre pedra. Esta lei tinha se transformada em meros rituais externos. Jesus declara que esta religião está extinta. Como? Ela é como um vinho insípido, velho. Mas o vinho velho não o melhor? Este vinho, no entanto, não responde mais aos anseios e necessidades do povo. Era necessário algo novo. Ao transformar a água das talhas em vinho Jesus está querendo trazer novamente a alegria e o amor na vida das pessoas. Era comum comparar-se a relação do povo com Deus com uma festa de casamento. Jesus está querendo novamente trazer a alegria na vida de fé. Jesus quer dar sentido à vivência da fé. Vive-se hoje, uma profunda desesperança frente às ideologias e um sem-sentido das religiões. Estão vazias e insípidas e, como nos tempos de Jesus, afastando as pessoas delas. Aí dentro a figura de Jesus que transcende toda e qualquer doutrina e religião, mostra aos homens e mulheres de hoje uma nova forma de vida, muito mais digna, esperançosa e feliz. É como um novo "vinho bom" capaz de reavivar o espírito. É necessário recuperar o sentido de ser humano, de suas relações consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus. É necessário recuperar a irmanação universal, um sentir-se criatura de Deus e irmão de cada criatura que foi criada para poder novamente saborear a água como se fosse um bom vinho.


Dr. Frei Romano Dellazari, ofm

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