Natal é dia de festa, mas que tipo de festa? Esta data tão especial, é na sua essência a celebração da Vida. Ainda mais do que em outros momentos de celebração da vida, Natal tem um sentido profundo de reflexão e memória do que se viveu, com a graça de Deus. Gratidão por tudo o Senhor te proporcionou para poder lutar, crescer, sorrir. Valorização do presente, pois você é hoje fruto do crescimento pessoal diante das lutas já enfrentadas, amparado pelo amor de Deus. E por fim, Natal nos faz planejar, sonhar com o futuro, com tudo aquilo que se quer buscar, viver, conquistar, onde se quer chegar.
Ao celebrar o Natal, estamos diante da grande reflexão da Vida, juntamente com Maria, José e o Menino Jesus. Através da vida deles, também nossa e de todo um povo que espera ansioso um grande Sinal da graça de Deus, em meio as lutas. Um povo pobre, simples, excluído, mas com o coração cheio de fé, de sonhos, de esperança. Deus se faz ‘Sinal’ visível e transformador de toda a humanidade, desde o tempo do Nascimento de Jesus até nossos dias.
Como poderia um simples nascimento causar tanta transformação? Ao buscarmos na Palavra a ação de Deus em meio ao seu povo perceberemos claramente que não fora um fato casual, mas foi muito bem pensado, arquitetado por Deus em seus mínimos detalhes, desde o projeto até sua consumação: Eis que uma virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus Conosco (Mt 1, 23).
Temos aí o início do Plano de Deus. Plano perfeito, mesmo que em meio a uma realidade muito concreta, sujeita a imprevistos e negações humanas. O Salvador, nasce do ventre puro, sem pecado, de uma virgem e é chamado de Emanuel, Deus conosco. Neste humilde e frágil menino Deus se fará presente em meio a humanidade.
Eis que Deus precisava convencer a jovem mulher escolhida para gerar o menino. Em Lucas 1, 28 – 38 temos o diálogo do anjo Gabriel com Maria. A primeira reação de Maria é de susto diante da surpresa de ser ela a chamada, escolhida. Depois de tranquilizada pelo anjo, ele apresenta o plano de Deus ao qual ela será a Mãe, novamente sua reação é de completa surpresa e desconhecimento diante da grandiosidade e dos riscos que seria abraçar sua missão. Logo ela, em meio a uma multidão, diante de mães muito mais experientes e com maiores condições de suprir as necessidades básicas de um Menino. A ainda menina/moça Maria sente que a responsabilidade é enorme e nada poderia dar errado.
Por fim, tendo o anjo explicado melhor como tudo aconteceria e como Deus permaneceria cuidando de tudo, Maria aceita com humildade e confiança: Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra. Eis uma vida doada que se transforma completamente para a salvação da humanidade, verdadeiro e profundo gesto de uma mãe. Mas não acaba por aí a ação de Deus, ele continua cuidando e caminhando junto com Maria.
Retomamos Mateus 1, 20 – 25, no qual está inserido o Plano de Deus. Encontra-se aí o diálogo do Anjo com José, em sonho. José faz sua profissão de fé e confiança em Deus, não por palavras, mas na prática: Ao acordar José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado. Acolhe Maria por esposa e junto ao Senhor cuida de Maria e do Menino em seu ventre. Cuidado essencial, pois além de comprometer-se e ser fiel companheiro de Maria para ajudá-la nas necessidades, naquele tempo jamais uma mulher poderia ter qualquer relação com um homem, muito menos aparecer grávida sem estar casada, seria morta por apedrejamento (Jo 8, 1 – 11).
Deus continuou cuidando de tudo. José e Maria foram muito zelosos e obedientes na tão grande missão a eles confiada, gerir o Filho de Deus. Desde o ventre ofereciam-lhe o maior presente que alguém pode receber, atenção, cuidado, dedicação e amor. Tudo sendo feito na maior alegria como vemos no Magnificat (Lc 1, 46 – 55), à espera do grande nascimento.
As circunstâncias do nascimento do Menino, trazem mais desafios para Maria e José para cumprir os Plano de Deus. Vemos novamente Deus presente, cuidando de tudo e agindo em meio a humanidade, à uma realidade bem concreta: Lucas 2, 1 – 7, destaca um decreto de recenseamento do imperador Augusto. Tal situação político/social obriga José partir com Maria, em plena gravidez, foram de Nazaré a Belém registrar-se, não obstante todos os desafios e riscos de tal viagem.
Eis que, após uma longa e cansativa jornada completa-se o tempo da gravidez, aparecem os sinais, surgem as contrações. O Menino Jesus está prestes a nascer. José precisa agir muito rapidamente para encontrar um local seguro e em condições para que Maria possa dar à luz. Hospitais não existiam, jamais se consegue imaginar então um plano do Estado para dar suporte de saúde a população, quanto menos para pobres. Lugares em hospedarias não havia também. Lugar em uma casa? Como imaginar uma cidade cheia de gente vindo de longas viagens registra-se haveria lugar para acolher todo este povo.
Não precisa muito para imaginar que também naquele tempo os mais miseráveis sobravam. Como conhecemos a expressão, José e Maria estavam “só por Deus”. Restou-lhes que se virassem, dessem um jeitinho, como todo pobre faz: Apega-se em Deus e na simplicidade e humildade vai encontrando caminhos e alternativas para superar as dificuldades. E não ficam desamparados, Deus aí estava. O local encontrado, uma manjedoura, um cocho de estrebaria utilizado para alimentar os animais do campo.
Pode nos assustar, mas é este mesmo o lugar: Deus encarnando-se deste modo, sendo acolhido com tanto amor por José e Maria entre os animais. Para Deus não há dificuldade que não possa ser superada quando confiamos nEle e agimos conforme sua vontade. Para Deus não há limites de humildade. Ele enobrece uma simples manjedoura e a faz casa de acolhida de sua próprio Filho. É a partir da manjedoura que Deus transforma a vida de seu povo.
Esta é a grande beleza do Natal, preparar nossas manjedouras, nossos corações para Deus fazer morada, sem luxo e ostentação, pois ali já vimos que não há lugar para Jesus nascer, mas repleto, pleno de hospitalidade e amor. Por este motivo que São Francisco de Assis tinha tamanha devoção e celebrava o Natal com imenso júbilo e alegria. Deus nasce com tamanha humildade em meio à criação. É a festa da simplicidade, é a festa da confiança e intimidade com Deus.
Por fim, Natal é a celebração do Deus Conosco, Emanuel, do Deus aqui e agora. Festa da vida, Deus que se mostra Deus dos vivos através da sua Encarnação. No Natal todos os Cristãos celebram a vida, vida nova em Cristo, nosso Salvador e Redentor. O celebremos com profunda devoção e fé, com alegria e jubilo, com paz e fraternidade. Feliz e Abençoado Natal a todos.
Paz e bem,
Frei Rodrigo André Cichowicz
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