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MISTÉRIOS GOZOSOS - PARTE 3

O ROSÁRIO COMENTADO - PARTE 4


1.3. O terceiro mistério gozosos reflete sobre o nascimento de Jesus em Belém (Lc 2,1-20)

João, no prólogo do Evangelho, diz: "E a Palavra se fez carne, e armou sua tenda no meio de nós" (Jo 1,14). No v. 1 do prólogo João também diz: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por meio dele a nada de tudo que existe, existe sem ele" (Jo 1,1.3).

1.3.1. "A Palavra se fez carne"


A Palavra que era Deus se fez carne, ou seja, a Palavra que era Deus assumiu a condição de um ser fraco e mortal. Aquele no qual tudo existe, ou seja, que é o fundamento de tudo que existe, pois nada existe sem ele, se tornou visível para sua criação. Ele assume, assim como cada criatura existente no universo, a condição de criatura, a fim de que, nessa condição de criatura, possa compartilhar seu modo de ser e agir com as criaturas. Ao assumir a condição de criatura, e ele é que quem plasma cada criatura, pode-se dizer que ele quer fazer perceber a imagem divina em cada obra de sua criação. Em cada criatura transparece a divindade, pois "a palavra é Deus".

1.3.2. A Palavra "armou sua tenda no meio de nós".

Nessa condição ele não se mostra para nós dentro de um Templo, o sinal da imobilidade, mas se torna visível na condição de peregrino. A tenda do pastor é sinal de transumância, de um vagar em busca de melhores pastagens para suas ovelhas. Jesus agora quer caminhar com cada criatura. Ele não se torna visível no Templo, mas nasce no meio de suas criaturas, tão bem celebrado por S. Francisco mil e duzentos anos depois em Greccio, na Itália, quando começou o presépio. Aí transparece a dimensão humana da divindade que quer compartilhar seu jeito de ser e agir com cada criatura. Assim contrapondo o isolamento que hoje as pessoas se impõem, Jesus propõe uma irmanação universal, onde cada criatura, humana ou não, possam conviver harmoniosamente entre elas. Assim ele quis nascer: no meio de suas criaturas. Jesus quer que deixemos de ser solitários, mas solidários (Boff).

1.3.3. Anúncio aos pastores

O primeiro anúncio do nascimento de Jesus se dá aos pastores. Se dá, pois, aos marginalizados, pois eles são mais capazes de compreender a simplicidade de Deus do que aqueles que egoisticamente vivem fechado no seu bem-estar. "Tem razão os místicos quando dizem que para acolher a Deus é necessário "esvaziar-nos", "despojar-nos" e "tornar-nos pobres" (Pagola). A nossa riqueza, muitas vezes, são nossas misérias. Estas nos impedem de ser pobres. O vazio interior não pode ser preenchido com coisas. Erich Fromm dizia que o homem do século XX se gloria de ter sido o mais produtivo de toda história. Porém foi o mais pobre porque produziu coisas e não pessoas. A festa do Natal foi transformada numa festa de presentes de coisas, guloseimas, frivolidades. A força revolucionária do Natal, e que é o maior escândalo do cristianismo, é o fato de que Cristo, "apesar de sua condição divina, não se apegou à sua igualdade com Deus; pelo contrário, despojou-se de sua categoria e assumiu a condição de servo, fazendo-se um entre tantos e apresentando-se como simples homem" (Fl 2,6-7). A encarnação nos mostra que Deus não é um desencarnado, mas o encontramos toda vez que encontramos e tocamos o humano ou suas criaturas.


Parte V

1.4. A apresentação do Menino Jesus no Templo (Lc 2,22-38)

No judaísmo existia uma lei que ordenava que todo o primeiro nascido, tanto de homem como de animal do sexo masculino (primogênito), era consagrado ao Senhor. Da mesma forma acontecia com os primeiros frutos da terra. Samuel, aos três anos, então desmamado, foi levado ao centro de culto de então, onde Eli exercia o sacerdócio e aí deixado. Existia, porém, a possibilidade de resgatar o primogênito. Jesus foi resgatado por um par de rolinhas.

Lucas aproveita o momento para apresentar Jesus como aquele que era o esperado messias. Por meio do Espírito Santo, chama ao templo Simeão, ao qual fora prometido que não morreria antes de ter visto o messias do Senhor. Ao chegar ao Templo, tomando o menino nos braços, ele profetizava bendizendo ao Senhor porque aquilo que fora prometido por Deus aos antepassados, ou seja, o projeto salvador de Deus, agora começava a se concretizar. Sua aceitação, porém, não fora pacífica. Lucas diz que, teologicamente falando, a ele fora negado um lugar para nascer. Mateus diz que ele teve que fugir para o Egito e João ainda diz que ele "veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). Por causa disso também Maria sofreria muito. Diz Simeão: "uma espada te transpassará a alma" (Lc 2,35).

Simão o compara como a luz que Deus preparou para todos os povos e como a glória de Israel. Mais diante da sua não-aceitação, ele se tornaria para alguns ruína e para outros salvação. Ana, pela força do Espírito Santo, também profetiza. Ela, da mesma forma, louva a Deus e apresentava o menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. O momento é epifânico, pois estão sendo colocadas as bases para o lento reconhecimento de que esse menino não é somente homem, mas também é Deus.


Parte VI

1.5. O encontro do Menino Jesus no Templo entre os Doutores (Lc 2,41-50)


Aos 12/13 anos, na festa da Páscoa, como seus pais o faziam todos anos, Jesus vai junto com eles a Jerusalém. Como se pode perceber, Jesus não permaneceu junto com eles em Jerusalém, onde seus pais, como zelosos judeus, cumpriam os rituais pascais prescritos. Seus pais imaginaram que Jesus, mesmo não estando com eles, estaria com a caravana. Aos 13 anos Jesus ficaria obrigado à observância das leis de sua religião. Pelo jeito ele não estava muito satisfeito com sua religião e, sobre ela, foi discutir com outros no Templo. Ele deixava todos admirados com sua perspicácia.

Jesus não retorna com a caravana. Após três dias de busca, os pais lá o encontram. E ele leva um “puxão” de orelha por ter aprontado. Diz Maria: "Filho, por que nos fizeste isso? Teu pai e eu, angustiados, te procurávamos" (Lc 2,48). A resposta de Jesus, mostra em primeiro lugar, agora uma certa independência. O menino estava criando asinhas. Agora já fazia número para formar uma comunidade com o mínimo de pessoas necessárias para oração comum. Em segundo lugar, mostra uma certa rebeldia, insinuando que o verdadeiro pai dele não é José, como de fato não era o pai biológico, respondendo à mãe: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar na casa de meu Pai?" (Lc 2,49). Eles não compreenderam a resposta. Maria ainda não se dera conta do profundo significado da anunciação quando o anjo diz de seu filho: "Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu Pai" (l 1,32) e "O santo que nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1,35). Ele, mesmo no Templo, que posteriormente chamará de "covil de ladrões", o está desclassificando e já apontando o caminho que ele posteriormente seguirá. Não mais ombreará apenas com a mãe, mas com todo o sistema religioso judaico de então. Jesus será o messias esperado que, através de seu modo de ser e agir, desafiará a religião de seus pais, querendo levá-la ao pleno cumprimento, ou seja, não apenas de práticas rituais, mas uma religião que atinge o íntimo do ser humano, lá onde Deus e o homem coabitam.


Dr. Frei Romano Dellazari, ofm

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