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«Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos

nele! Porque um Menino santíssimo e dileto

nos foi dado e nasceu por nós no caminho e

foi colocado no presépio,

porque ele não tinha um lugar na hospedaria»

                                                                                             Ofício da Paixão do Senhor XV, 6-7

  

A todos os Frades Menores da Ordem

Às Irmãs contemplativas da nossa Família

Às Irmãs da TOR e aos irmãos e irmãs ligados à nossa Ordem


.

«Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos nele! Porque um Menino

santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós no caminho e foi colocado no presépio, porque ele não tinha um lugar na hospedaria»1 .


 Assim rezou são Francisco com os seus irmãos no dia de Natal.


Desejo fazer o mesmo convosco, caríssimos Irmãos e Irmãs, neste tempo do Advento e do Natal de 2023, atravessado pelas sombras e pelas luzes da guerra e da violência em muitas partes do mundo, não menos importante a Terra abençoada onde o Senhor quis nascer e morrer pobre e ainda hoje continua a sua agonia.


O primeiro convite do salmo composto por Francisco é o da alegria, que hoje parece muito difícil: como ser feliz, de fato, em meio a tantos sinais de morte e diante de um futuro incerto? Temos o direito à alegria quando tantos são privados da paz e da própria vida?

 

Então, como podemos experimentar e proclamar hoje a alegria do Advento e do Natal?

 

Creio que nos é pedido que aprendamos a reconhecer o que trava em nós a experiência da alegria e da paz.

 

É por isso que chamo a nossa atenção para a presença em nós desses “maus pensamentos” - como a tradição espiritual os chama - que são verdadeiros sabotadores da alegria e da paz.

 

A gula deforma nossa relação com a comida, enganando-nos a pensar que estamos saciados, portanto felizes; não só, essa move dentro de nós a luxúria, que deforma nossa relação com o corpo e a sexualidade, não mais vivida como um espaço de encontro, mas de posse.

 

A ira deforma nosso relacionamento com os outros, porque nos prende em nossas ideias e posições, que defendemos a qualquer custo. Desta forma, estamos expostos à vanglória e ao orgulho, que distorcem a relação com o que fazemos e com Deus, porque o espaço é todo ocupado por nós.

 

Queremos comprar tudo, por medo da morte, como nos revela a avareza, a relação distorcida com as coisas e o dinheiro. E aqui está o outro pensamento que deforma a nossa relação com o espaço, a acídia, o mal sombrio que nos assalta no meio da vida,


fazendo-nos acreditar que outro lugar e outras ocupações serão melhores para nós e que ninguém entende isso, ainda nos colocando no centro de tudo. Não há alegria se vivemos assim e por isso a tristeza nos ataca, o que deforma nossa relação com o tempo, encurtada pelo sentimento doloroso que tudo passa.

 

Quis voltar a essas raízes do mal antigo que está em nós, porque a violência do terrorismo e da guerra, com tudo o que desencadeia, nos põe em contato com aquele poço profundo de pensamentos e sentimentos que corrói em nós a paz e a alegria.

 

É daqui que podemos descobrir-nos co-responsáveis pelo mal presente no mundo, com a sua pretensão de substituir Deus. O mal não é uma piada. São Paulo diz que há algo que detém a plena revelação do Senhor «no esplendor da sua vinda»2 , e não sabemos o que ou quem seja. No entanto, sabemos que somos peregrinos e forasteiros nesta luta e vigilantes na expectativa da vinda do Senhor. Por isso não nos amedrontam, embora dramáticos, os sinais dos tempos em que vivemos. Com efeito, na espera do Senhor, temos o cuidado de lê-los com fé, de mudar os corações e as ações com o seu amor, «para que Deus seja tudo em todos»3 .

 

Permitamos, pois, ao Senhor, que vem iluminar esta obscura área presente em nós, abrir-nos às às virtudes que o Espírito infunde em nós: como nos recorda São Francisco, essas são a alegria e a simplicidade, a pobreza, a humildade, a caridade e a obediência: são essas virtudes que confundem os maus pensamentos e nos orientam para o Senhor4 , para que a alegria da fé e do seguimento de Cristo irrompam, mediante uma vida luminosa e não resignada e triste

 

Este caminho é possível nas pegadas de Francisco, que em Greccio acolhe a vinda do Senhor na Eucaristia, onde «eis que diariamente ele se humilha, como quando veio do trono real ao útero da Virgem; diariamente ele vem a nós em aparência humilde; diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote»5 .

 

É a humilhação do Senhor que nos abre o caminho para as fontes da paz e da alegria, com todas as criaturas. Com efeito, na Eucaristia podemos restituir ao Pai, em Cristo e no poder do Espírito, esta criação que «geme e sofre as dores do parto até hoje»6 .

 

Paz, alegria e gemido da criação: não uma alegria barata, mas a perfeita alegria que Francisco amadureceu desde o Natal de Greccio até o encontro com o Senhor acolhido no Alverne.

 

Acompanhe-nos de novo, com tantas pessoas de boa vontade deste tempo, rumo à alegria descoberta num Menino que nasce no caminho, como tantos que hoje fogem das guerras, da fome e da injustiça.

 

Uma alegria simples e verdadeira, que já agora nos faz saborear aquela do retorno do Senhor, que invocamos:

 

Maránathá, Vem, Senhor Jesus! Sentimos tua falta e hoje sentimos teu silêncio com dor. É neste tormento de ausência que vens ao nosso encontro? Não estás longe de nós, mas te deixas reconhecer. Dá-nos a fé de Maria, capaz de esperar!

 

Com os meus melhores votos para o Advento e o Natal do Senhor, cheios da sua paz para todos.

 

Roma, 29 de novembro de 2023

  800 anos após a aprovação da Regra Bulada

 

 


Frei Massimo Fusarelli, ofm

Ministro geral

 

 

1 - Ofício da Paixão do Senhor XV, 6-7.

2 cf. 2Tes 2,3-8b.

3 1Cor 15,28.

4 cf. Saudação às Virtudes, 10-15.

5 Admoestação I, 16-18.

6 Rom 8, 22.

 

 

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