São Francisco é admirado por sua humildade, pela atenção que dedicava aos mais pobres e pela paz interior que tanto buscava. Mas hoje, é importante ressaltar o cuidado que Francisco de Assis sempre teve com a criação. Inspirado no seu cântico, o Papa Francisco escreveu uma Encíclica sobre a urgente necessidade de cuidar de nossa casa comum. “Laudato Si, mi `Signore”– Louvado sejas, meu Senhor, era como cantava São Francisco de Assis, e nos recordava que a nossa casa comum pode se comparar com uma boa mãe, que nos acolhe em seus braços.
Mas hoje, esta mãe clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos achando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Esquecemos que nós mesmos somos terra. Que o nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta: o seu ar nos permite respirar e a sua água nos restaura.
São Francisco de Assis é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o Santo Padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado por sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e em harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. O seu testemunho nos mostra também que uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contato com a essência do ser humano. Tal como acontece a uma pessoa quando se apaixona por outra, a reação de Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas. Entrava em comunicação com toda a criação, chegando mesmo a pregar às flores. Sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe.
Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos. Pelo contrário, se nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, então brotarão, de modo espontâneo, a sobriedade e a solicitude. A pobreza e a austeridade de São Francisco não eram simplesmente um ascetismo exterior, mas algo de mais radical: uma renúncia a fazer da realidade objeto de uso e domínio.
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor. A humanidade tem o dever de colaborar na construção da nossa casa comum.
Hoje, na memória de São Francisco de Assis, é um importante momento para renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Deus, que nos chama a uma generosa entrega, também nos dá as forças e a luz que necessitamos para prosseguir. Ele não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. São Francisco de Assis, rogai por nós!
OMAR RAPOSO*
* Pároco da Paróquia de São José da Lagoa e reitor do Cristo Redentor
O artigo já foi publicado em https://www.jb.com.br/pais/artigo/2018/10/943768-sao-francisco-de-assis-e-o-cuidado-com-a-criacao.html
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