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Quantas vezes já ouvimos ou até proferimos expressões que remetem à vontade de Deus como: “Deus quis assim”, “Deus sabe o que faz”. Ou ainda expressões mais deterministas: “Quando Deus quer, ninguém pode contra”. Todas expressões que se popularizaram entre o povo, através de sua fé e não são questionáveis, mas verdadeiras. Talvez o que seja importante refletir é sobre o contexto que nós as usamos. É isto que nos propomos muito brevemente neste texto.

Cabe nos perguntar, em que circunstancias nós falamos ou então ouvimos “Deus quis assim”. Na maioria das vezes que ouvi foi para justificar uma fragilidade humana, algo além de nossas forças que nos pegou de surpresa. Um exemplo é na hora da morte de um familiar ou amigo. Mas me pergunto, em que Deus eu coloco minha fé, minha esperança e depois me “trai”, levando alguém que amo à morte? Até então não era Deus que queria que meu familiar vivesse, ele estava distante?

O pretexto de expressar a frase “Deus quis assim”, mesmo que subjetivo, é identificar uma razão, um “culpado”, para algo que não conseguimos explicar e que nos entristece. Mas deveríamos nós na situação adversa vivida encontrar um “culpado” ou apenas reconhecer nossa pequenez? Recordo São Francisco de Assis: ao chamar todas as criaturas de irmãs ele se reconhece pequeno, irmão, não alguém que está no centro dominando todas as coisas.

Para entendermos melhor, São Francisco “absurda e admiravelmente” ao encontrar um pequeno verme no caminho parava e o retirava para que ninguém viesse pisá-lo. Para ele não era um verme apenas, mas uma criatura amada por Deus. Ou então podemos ver no evangelho de Mateus 10, 29-31, Deus tem contado todos os pardais ainda que os homens os vendam por pequenas moedinhas. Afirma a seguir, vós valeis mais que muitos pardais, até os fios de vossa cabeça estão contados.

Assim Deus está o tempo todo junto contigo, com seu familiar, também na hora da tristeza, amparando. Deus está o tempo todo em todo o lugar e em todas as pessoas, em todas as criaturas: como mãe/pai amoroso, está nos abraçando, orientando, apontando por pequenos sinais nossas ações. Nas alegrias vividas e a cada etapa vencida, Deus quis assim, na família, no amor, na união, na paz, na amizade, Deus quis assim. Lá na sua concepção e até antes dela, Deus quis assim. Se refletimos sobre a constante presença de Deus em nossa vida, veremos que teremos muito a agradecer e pouco a lamentar.

Nossa fé é acompanhada por gestos práticos e decisões concretas no dia-a-dia, nas mais simples. Deus não se faz presente apenas em eventos extraordinários, mas é presença e cuidado constante em nossa vida. Há de se pensar de outro lado, quem de nós tiraria tempo para cuidar de um “vermezinho insignificante”, vivemos correndo, nos atropelando para nada. Sim, para nada, pois não entendemos o sentido da vida se precisamos estar o tempo todo e todo o tempo ocupados de nós mesmo. Que espaço resta para Deus? Talvez a hora da morte, aí nos damos conta, “Deus quis assim.

Este tempo de isolamento obrigado veio não por obra de Deus, mas por meio dela, Deus quer nos provocar a pensar. Como nos diz o Papa Francisco: é ilusão achar que continuaríamos sempre saudáveis em um mundo doente. Voltemos nosso coração e nossos sentidos para o Senhor da vida. Mesmo em meio às maiores dificuldades, ali, bem pertinho está Ele, não nos condenando, mas amparando, salvando. E a cada pequena vitória diária, possas dizer sinceramente: Louvado seja nosso Senhor, porque quis assim.


Frei Rodrigo André Cichowicz, ofm


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