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Implicações práticas do 8º Centenário do Presépio de São Francisco no Natal de Greccio


Implicações na vida pessoal, fraterna, eclesial e social


Introdução


A equipe do JPIC recebeu a tarefa de refletir e de sugerir as consequências práticas do jubileu do presépio na preparação e na vivência do Natal.

O texto que segue resgata de forma sintética os fundamentos teológicos-franciscanos da encarnação de Jesus. E indica suas múltiplas, não todas, implicações práticas nas várias dimensões do ser humano.

Cabe a cada frente de evangelização aplicar aquelas sugestões práticas que melhor impactam na sua realidade eclesial e social. Ou decidir a aplicação de outras sugestões práticas provindas da reflexão do jubileu do presépio a partir da realidade onde os frades estão inseridos.


I - NATAL ECOLÓGICO, CUIDADO COM A CASA COMUM


Jesus nasceu em sintonia com a Casa Comum. Seu lar foi uma gruta, lugar de refúgio e de alimentação dos animais. Seu leito um coxo com palhas, o “prato” dos animais. Sua companhia os animais, a lua, as estrelas, o ar, o vento. Sua primeira visita, os pastores com suas ovelhas.

Ao assumir a natureza humana na condição de pobre na periferia de Belém, Jesus é acolhido por vários seres criados. Eles também se alegraram com a vinda do Messias-Salvador. Sua missão sanadora inclui todos os seres criados, pois eles também sofrem as consequências do pecado das origens. Jesus veio restaurar a fraternidade cósmica (Is 65,25; Rm 8,22).

São Francisco tem consciência que Deus é o Criador de tudo o que existe. Por isso, Ele é o “Pai’ de todo ser criado. E toda criatura é seu “filho”. Portanto, todos os seres criados são irmãos, irmãs. Como toda a criação sofre dores de parto, Jesus veio “salvar” a todos para que haja harmonia entre todas as criaturas nascidas das mãos divinas.

Todo seguidor de Jesus se compromete a trabalhar para que haja harmonia na Casa Comum. Nesse sentido, o discípulo de Jesus e, de modo muito particular, os que seguem o espírito de Francisco, assumem o seu projeto de instaurar o Reino de Deus na dimensão do cuidado da Casa Comum. Ela não suporta mais tanta intervenção inadequada da pessoa humana. E um dos resultados dessa intervenção são as mudanças climáticas que geram incalculáveis prejuízos humanos, ecológicos, físicos e materiais. E, como sempre, os que mais sofrem com os desequilíbrios climáticos são os pobres. Isso fica muito claro nas atuais mudanças climáticas: secas, enchentes, nevascas, ciclones, queimadas, etc.


Sugestão de gestos concretos: coletar produtos reciclados e doá-los aos catadores; fazer do lixo orgânico, adubo; fazer campanha para que as famílias façam composteiras; utilizar lâmpadas led na decoração do Natal, reduz o custo de luz até 80%; se possível utilizar papel reciclado para os embrulhos; no fim das festas poupar água nas lavagens da louça, e escolher produtos biodegradáveis e não tóxicos. Isso faz a diferença no ambiente; coleta seletiva do lixo nos municípios; hortas ecológicas e comunitárias; produção agroecológica; Natal ecológico não pode ter plástico; dentro do possível, comprar produtos orgânicos, que são mais saudáveis e não possuem produto químico; separar as embalagens que podem ser recicladas; organizar mutirão de limpeza de locais na qual a mesma está descuidada ou ausente; fazer um folder com dicas concretas para um Natal ecológico.



II - NATAL SOLIDÁRIO, GESTO DE SOLIDARIEDADE COM OS POBRES


Jesus nasceu na periferia de Belém numa gruta junto aos animais. Francisco ficou muito impressionado pelas condições precárias em que Jesus nasceu. Ele de condição divina, não quis nenhum privilégio, nem mesmo, ao nascer. Escolheu nascer pobre, humilde, despojado e na periferia.

Os primeiros convidados a visitar Jesus foram os pastores, gente pobre e simples. Eles tiveram o privilégio de contemplar o Verbo de Deus que assumiu a condição humana pobre, simples, frágil, esvaziado da condição divina.

Jesus na sua missão sanadora-salvadora-libertadora, privilegia os pobres e aqueles que sofrem os mais diversos males (Lc 4,18ss). E se faz presente nos necessitados e neles suplica nossa solidariedade (Mt 25,31-46).

Ao vivenciar o presépio vivo, São Francisco queria observar “os apertos” e as necessidades que o menino Jesus passou. E sentir o despojamento do Filho de Deus, que por amor, escolheu se identificar com os pobres e os pequenos desse mundo. Decidiu assumir sua condição de vida para expressar e testemunhar a compaixão de Deus, seu Pai, aos pobres e excluídos de seu tempo.

São Francisco seguiu os passos de Jesus na solidariedade com os pobres. Ele assumiu a condição de pobre, de menor, como opção de vida para ser solidário com os pobres de seu tempo. Ele convivia com os pobres. Ele e seus companheiros buscavam o seu sustento com o trabalho de suas mãos. E quando o resultado do trabalho não era suficiente, recorria à mesa do Senhor, a esmola, como todo e qualquer pobre.

Dom Helder Câmera inspirado em São Francisco, a partir da realidade do Nordeste, intuiu que o pobrezinho de Deus vivenciaria outro tipo de presépio-vivo.

“HOJE, FRANCISCO

Em lugar de Presépio

a manjedoura de Belém

preferes

ajudar a descobrir

Presépios-vivos

Onde o Menino Deus

chora de fome e frio.

Enfrenta desinteria

e desidratação”.



Sugestão de gestos concretos: fazer campanha diferenciada para dar melhores condições de vida para as crianças pobres de nossas paróquias: comida, vestimenta, produtos de higiene, calçados, berços, remédios, melhores condições da casa, etc. Aí depende de levantamento das principais necessidades das crianças. Cada presença evangelizadora, a partir de sua realidade, promova gestos concretos de solidariedade com os pobres e os excluídos.



III - NATAL ECUMÊNICO, CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA OU INTER-RELIGIOSA


A segunda visita que o menino Deus recebeu foi de gente de outros povos, de outras raças, os magos – considerados sábios. Deus através da estrela, atraiu os magos como visitadores privilegiados de seu Filho Unigênito. E eles ao verem o menino, o adoraram e reconheceram, através de seus presentes, a divindade, a humanidade e a realeza de Jesus.

Deus ao convidar os magos para reconhecer seu filho como Salvador, deixou bem clara a missão de seu filho, ele veio como Salvador de todos os povos e raças. E não apenas para o povo de Israel que se considerava o único escolhido por Deus. A visita dos magos, expressa o amor universal de Deus. Ele não exclui ninguém. O seu coração amoroso, misericordioso, compassivo acolhe a todas as pessoas independentemente de suas opções religiosas, culturais, de gêneros, etc.

São Francisco, mais que ninguém, entendeu a missão salvífica de Jesus. Sua encarnação, missão, morte e ressurreição se estende a todos os povos. Toda a humanidade é redimida por seu sangue derramado na cruz. Todos os povos se beneficiam de sua ressurreição. Por isso, sua postura frente aos muçulmanos é totalmente distinta do agir da Igreja da época. Daí advém o modo franciscano de se relacionar com respeito, com reverência, com diálogo com aqueles que tem outro credo religioso, outra cultura, outras opções de gênero.


Sugestão de gestos concretos: celebração ecumênica ou inter-religiosa do Natal promovida pelas nossas presenças evangelizadoras; fazer pequeno ritual para colocar no presépio figuras representativas de outras religiões. Pode ser feita antes da bênção final da missa ou numa celebração inter-religiosa. E deixar pequena explicação junto ao presépio do porquê dessa presença.




IV - NATAL VISUALIZADO


“Aquilo que os olhos não veem, o coração não sente”. É um ditado que tem boa dose de verdade. São Francisco ao inventar o presépio queria ver “os apuros”, a situação precária em que nasceu o Filho de Deus. Ao contemplar a pobreza, a humildade, o despojamento do Menino Deus, certamente, o coração de Francisco ficou profundamente afetado, tocado, emocionado. E não apenas com Jesus, mas também com Maria e José. Bem que Francisco gostaria de estar junto a Jesus para amenizar as suas necessidades básicas. Sua mente não conseguia entender tão profundo mistério, o Rei dos Reis, o Filho de Deus, esvaziar-se totalmente para assumir a condição humana de uma criança pobre. Desprovida de todas as condições humanas adequadas, necessárias para fazer sua morada na Casa Comum. Ele, além do choque necessário de sair do útero materno, lugar totalmente protegido e agradável, para um lugar adverso, teve que sentir o desconforto do coxo, das palhas, do frio, da noite escura. Tinha apenas o conforto da presença dos pais e dos animais que o aqueciam com sua respiração.


Sugestão de gestos concretos: que toda a atividade natalina no espírito de São Francisco proporcione uma visualização que passe dos olhos para o coração (sentir), da cabeça (entender) e para as mãos (agir).



V - NATAL BEM PREPARADO


Todos sabemos que a preparação acurada de toda e qualquer atividade dá bons frutos. São Francisco tinha consciência de que o presépio vivo daria certo se fosse bem preparado. Por isso, encarregou seu amigo João para que preparasse, com antecedência, o cenário do presépio vivo. Nele Francisco veria, ao vivo, a reação do Menino Deus deitado sobre as palhas do coxo acompanhado de seus pais e do burro e do boi. Uma cena bem parecida no palco da gruta de Belém.

Inspirados em São Francisco, somos convidados a delegar toda e qualquer atividade referente ao presépio e ao Natal a pessoas competentes.


Conclusão


Tudo o que for feito referente aos 800 anos da criação do presépio, seja, com antecedência, bem preparado por pessoas comprometidas com Natal dentro do espírito franciscano.

Que aquilo que for feito em nossas frentes de evangelização em relação ao Natal ajude a Fraternidade local e os fiéis a viver, com maior profundidade e comprometimento, o espírito do Natal: a encarnação do filho de Deus e suas consequências para a vida pessoal, eclesial e social.



Equipe JPIC


 
 
 

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