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ASCENSÃO DO SENHOR

Pistas homilético-franciscanas



Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mt 28,16-20

Tema-Mensagem: A Ascensão do Senhor marca o princípio de sua nova presença no mundo e da missão dos Apóstolos, da Igreja e de todos nós

Sentimento: alegria-confiança


Introdução:

Durante quarenta dias, após sua Ressurreição, Jesus, através de inúmeras aparições, testemunhou que sua crucificação não fora o fim, mas o começo de uma nova vida, de uma nova história. Hoje, com sua Ascensão para o Pai, não apenas conclui suas aparições, mas, também, marca o início do tempo de sua nova presença no mundo e da missão dos Apóstolos e da Igreja.


1. O último encontro (Mt 28,16-20)

A perícope do Evangelho de Mateus, a última, proclamada hoje, descreve com muita brevidade e precisão os preciosos e memoráveis fatos que constituem o último encontro de Jesus com seus discípulos. Nesse cenário e pela última vez, os discípulos verão e ouvirão do mestre as palavras da missão apostólica que irão ecoar pelos quatro cantos do mundo até o fim dos tempos. Na primeira parte, Mateus (28,16-17) descreve a postura e os atos dos discípulos e, na segunda (28,18-20), os últimos atos e ditos de Jesus.

1.1. Os discípulos foram para a Galileia

O último encontro de Jesus com seus discípulos já havia sido marcado por Ele mesmo por diversas vezes (Mt 26, 32; Mt 28, 7; Mt 28,10; Mt 28,16). Sendo o último, esse encontro se reveste de suma significância: o resumo, a essência, o tudo de toda a caminhada até então encetada e, ao mesmo tempo, o princípio da missão da Igreja. Mas, por que na Galileia?

A região setentrional da Palestina, de solo fértil e bem cultivado, era chamada de Galileia dos gentios, por ser o lugar de encontro e de convivência de muitos povos diferenciados, judeus e pagãos. Por causa deste ecletismo religioso, aquela região era mal vista pelos judeus ortodoxos de Jerusalém. Diziam que de lá “não poderia vir nada de bom” (Jo 1,46). No entanto, foi ali que Jesus viveu a maior parte de sua vida.

Ao marcar o encontro para a Galileia, duas coisas estavam sendo salientadas. A primeira é o recomeço. A morte de Jesus não havia sido o fim. A obra do Evangelho, do Reino que ele começara desde a Galileia, ia recomeçar e se expandir, só que agora sob a responsabilidade dos Apóstolos e demais discípulos. Vale recordar, também, que foi para a Galileia que Jesus, logo após seu Batismo no rio Jordão, se retirou a fim de dar início ao seu ministério ou Vida pública anunciando: “Convertei-vos, pois o reino de Deus está próximo!” (Mt 4,17). Foi também lá que houve o primeiro encontro com seus primeiros discípulos, e os chamou para formarem o futuro colégio apostólico.

A segunda, é para assinalar que o Evangelho e o grupo de seguidores devem ter um caráter universal e de preferência entre os não cristãos. Todos, judeus e gentios, seriam convidados à festa do Reino de Deus que Jesus veio inaugurar com sua vida, sua paixão e morte de cruz e sua ressurreição. Sua comunidade escatológica seria católica, isto é, universal. Ao acolher todos os homens, em suas diferenças, sem discriminação entre judeus e gentios, essa comunidade, que é a Igreja, abraçaria toda a terra, sim, todo o universo (terra e céu), na catolicidade (universalidade) da Caridade que é Deus. A caridade crística é o amor gratuito universal, não restrito a limites étnicos, que a todos e a tudo inclui, como irmãos e irmãs.

1.2. Ao monte por Jesus indicado

O lugar do reencontro na Galileia seria num monte que Jesus lhes tinha indicado (Mt 28,26). Mateus não diz qual. Talvez seja de propósito, isto é, para dizer que a partir deste evento todo monte – dificuldade, sofrimento, cruz - deve ser visto e assumido como graça para ascender ao Céu, ao Pai. O simbolismo do monte ou da montanha atravessa a história dos povos e das religiões e sempre está imbricado à experiência da transcendência. Quase todos os povos ou cidades tem sua montanha sagrada: o lugar do encontro entre o céu e a terra, o lugar dos sacrifícios, das orações, das manifestações e visões divinas, etc.

Vista de cima, a montanha se apresenta como o vértice e o centro do mundo. Vista de baixo, entre outros significados, se apresenta como a escada que se precisa escalar a fim de chegar ao paraíso dos deuses (Cf. “A Montanha dos Sete Patamares”, de Thomas Merton). Na Sagrada Escritura inúmeras são as teofanias ligadas a montes ou montanhas como, por exemplo, o monte Garizim (Jz 9,37), o Sinai, o Gólgota o monte da crucificação, etc.

A montanha, aqui, sem nome, toma um sentido escatológico. É a montanha do Reino definitivo, para a qual, segundo os profetas, principalmente Isaías, afluirão todas as nações da Terra (Cf. Is 2, 2-3). Assim, a Ascensão de Jesus atrai para trás de si uma multidão de homens de povos e nações de toda terra, para se elevarem no conhecimento de Deus e na aprendizagem dos seus caminhos. Com Ele se elevam e entram no paraíso para se sentar à mesa do banquete do Amor das Três Pessoas divinas não só os homens, mas, também toda história e toda criação. Uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde (LS 89). E este é, justamente, o sentido último de todo discipulado cristão, de toda a humanidade, de toda história e de toda criação.

1.3. Prostraram-se diante dele

Chegados ao monte, o primeiro gesto dos discípulos ao avistarem o Senhor, foi o de se prostrarem. O reencontro começa, pois com o mais significativo gesto de humildade, indignidade, respeito, reverência, adoração e submissão diante do aparecimento do seu Mestre e Senhor. A adoração, porém, não elimina as dúvidas. Como vimos, durante quarenta dias, - que celebramos entre o Domingo da Páscoa da Ressurreição e o Domingo da Ascensão - Jesus, através de inúmeras aparições, como bom mestre, procurou fortalece-los na fé. Mesmo assim, alguns duvidaram (Mt 28,17). Isto mostra, por um lado, quão inusitado, inaudito era o que eles estavam vendo, e, por outro, serve, também, para aumentar a fé daqueles que não viram e creram, isto é, a fé de todos os discípulos que haverão de sucede-los, enfim, nossa fé.

O mais inaudito, porém, não são as dúvidas deles, mas a fé de Jesus. Pois, apesar das dúvidas deles Ele não se abala, não deixa de confiar neles e, muito menos, os abandona ou os repreende. Pelo contrário, continua a chamá-los e a convocá-los, como no começo, para confiar-lhes em definitivo sua missão. Acontece que a fé tem sua origem e crescimento na graça do encontro e do reencontro, jamais em dons naturais, em projetos ou decisões pessoais (Cf. LS 7). Por isso, inimigo da fé não são as dúvidas, mas a insensibilidade que nos deixa acomodados, endurecidos por causa do marasmo de nossas infidelidades. Assim, as dúvidas existem como convocação para dizer de novo “sim” ao “sim” e “não” ao “não”, já assumidos, sempre com maior amor, doação, clareza, firmeza e profundidade.

2. Gestos e ditos de Jesus

Na segunda parte do Evangelho de hoje, Mateus nos coloca diante dos últimos gestos e ditos de Jesus: Então Jesus se aproximou deles e falou... (Mt 28, 18).

2.1. Jesus evoca sua autoridade

A primeira coisa a se notar, aqui, é que, em Jesus, o Deus que habita uma luz inacessível se mostra acessível, se faz próximo dos discípulos, amável. Bem que, como já dissemos acima, Ele teria motivos mais que suficientes e justos para abandoná-los e repudiá-los. Ele, porém, os procura, quer falar-lhes de perto e sempre de novo, ao pé do ouvido, como amigo, companheiro ou esposo. Eis a fonte de onde brota sua autoridade.

Trata-se do verdadeiro sentido de autoridade. Autoridade não é o mesmo que poder. O poder, para ser legítimo, precisa se apoiar na autoridade. Aliás, a palavra “autoridade”, bem como “autor”, em sua origem, o latim, tem o sentido de fazer crescer, aumentar, encher, enriquecer, plenificar (Harada). Era o que proclamava João Batista: “É preciso que ele cresça e eu diminua”.

Ora, é bem esse o sentido da obra que Cristo na cruz consuma: o “dar a vida por suas ovelhas”. Da cruz, portanto, vem a sua autoridade. O verdadeiro sentido, pois, da autoridade não reside em usar o poder para tirar a vida e promover a morte, mas em usar o poder para promover a vida, para que todos a tenham e a tenham em superabundância (Jo 10,10). Enfim, o máximo da autoridade aparece no não-poder, na humildade, na caridade, na Cruz.

2.2. Uma autoridade no céu e sobre a terra

Segundo Jesus, a autoridade que lhe foi dada pelo Pai, não tem limites, é católica (universal), pois se estende “sobre o céu e sobre toda a terra” (Mt 28,18). Toca-se aqui na essência da mensagem evangélica: sua universalidade. O reino de Deus, sendo de Deus, o Pai das misericórdias, é de todos e para todos. Por isso, nesse reino o encontro não existe para os fiéis dobrarem os infiéis, mas para todos os humanos, crentes ou não crentes, reconduzirem suas diferenças para a convivência de um com o outro (E. Carneiro Leão).

2.3. Ide e fazei discípulos

Jesus, segue dizendo: “Ide, pois, de todas as nações fazei discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar tudo o que vos ordenei” (Mt 28, 19-20a). Chegamos ao coração do Evangelho! O amor misericordioso do Pai, revelado e testemunhado por Ele, Jesus, na Cruz, é para ser levado para todas as nações da terra, para todas as humanidades da humanidade. Por isso, agora lhes diz: “Ide!”, etc. Aqui está a essência e a identidade de todo cristão: ser discípulo-evangelizador de Jesus para fazer de todas as gentes discípulos-evangelizadores de Jesus.

Essa ordem (ordenamento) de Jesus, passa a ser o princípio, a razão de ser da Igreja e de todo cristão. Não se trata de dois compromissos separados – ser discípulo e evangelizador - como se fosse possível buscar um sem o outro. O discípulo ou evangeliza ou não é discípulo e vice-versa: quem evangeliza ou é discípulo ou não é evangelizador. E a razão desse princípio, segundo o Papa Francisco, é muito simples: quem uma vez experimentou o amor de Deus não pode deixar de proclamá-lo. Daí nasce o ser discípulo-missionário. É o que testemunharam Pedro e João, diante do sinédrio, quando foram proibidos de falar em nome de Jesus: “Quanto a nós, é certo que não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4, 20).

O centro da evangelização, de hoje e de sempre, portanto, é “fazer discípulos de e para Jesus” e não para a Igreja. Só haverá Igreja se houver discípulos e não vice-versa. Está na hora, diz o papa, de a Igreja converter-se para Jesus e seu Evangelho, largando a pretensão de ser “Misterium Solis” (Mistério do Sol: Jesus Cristo), para tornar-se cada vez mais “Misterium lunis” (Mistério da lua). A imagem, muito clara, bela e expressiva, quer dizer que o brilho da lua não é dela, mas do sol. O mesmo se dá com a Igreja: sua luz vem de Jesus Cristo, o Sol nascente que, vindo do alto, ilumina todos os homens que vem a este mundo (Jo Pró).

Finalmente, é muito significativo que Jesus em vez de chamar e de enviar um por um chama e envia todos os discípulos, como grupo, como comunidade, como Fraternidade. Assim, ninguém poderá subtrair para si a autoridade ou a dignidade da convocação-missão, pois todo discipulado e missão cristã é uma “comungação” da única e grande vocação- missão Dele, Jesus Cristo, a Caridade de Deus, primeiro e único chamado-enviado do Pai.

2.4. Batizando-os

A potência da alegria do anúncio da Boa Nova – o encontro com o Senhor da Cruz e da Ressurreição - quando atinge o coração do homem faz nascer a necessidade do Batismo. Primeiro, portanto, importa que se faça o anúncio para que daí surja o encontro e do encontro a necessidade, o desejo do Batismo.

O Batismo além da entrada no seguimento/discipulado de Jesus, celebra, também a imersão no mistério da Trindade. Por isso diz: “batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). O “em nome de” estabelece uma relação pessoal do batizado com as pessoas divinas. A partícula “em”, no latim “in”, indica movimento para dentro, para o interior, para a raiz, a fonte, no caso, para a intimidade mais profunda de cada uma das Três Pessoas divinas: Pai e Filho e Espírito Santo, fundamento da bem-aventurança dos homens, morada de onde nascemos e partimos, pela qual vivemos suspirando, e onde, um dia, chegaremos e estaremos definitivamente todos juntos.

Eis o coração do Evangelho, da Boa Nova e que professamos como Igreja todos os Domingos: “Creio em Deus Pai... Creio em Jesus Cristo... Creio no Espírito Santo...”. Crer, não é apenas acreditar, mas pôr-se no movimento da afeição, da entrega e da doação à pessoa amada. Crer neste sentido significa crescer para dentro do mistério e da graça do encontro. Por isso, pela fé, vivemos mergulhados em Jesus Cristo, podendo vir a ser Nele, com Ele e por Ele também nós filhos muito amados do Pai. Pela fé, ainda, estamos mergulhados no Espírito Santo, o sopro do amor de Deus que Cristo, do alto da Cruz, expirando soprou sobre toda a humanidade de modo que todo aquele que o acolhe se torna comungante do Pai e do Filho.

2.5. Eu estarei convosco todos os dias

A última palavra de Jesus no Evangelho de Mateus é sumamente amada e animadora. Diante de um possível sentimento de orfandade e abandono por causa da partida, Jesus conclui seu discurso assegurando: “Quanto a mim, eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28, 20b).

Como seria consolador e encorajador ao homem de hoje, sozinho, isolado, distante um do outro, desprovido de relacionamento pessoal e comunitário, com os espaços cheios, mas os tempos vazios, ouvir: “Quanto a mim, eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28, 20b). Ele está conosco! Mas, teremos olhos abertos para reconhece-Lo? Pois, o que Jesus promete não é uma imagem, uma metáfora, mas uma realidade: a realidade de todas as realidades. Ele não promete um sentimento, uma lembrança, mas a sua proximidade real entre nós como Pessoa que comunga inteiramente de tudo que diz respeito à nossa pessoa.

Para nós, a Igreja, essa proximidade se dá principalmente na Eucaristia, ainda que de modo velado, sacramental. Mas, não podemos esquecer jamais que sua presença, de modos diferenciados, se estende a todas as pessoas, crentes ou não, a todas as criaturas e acontecimentos da história pessoal ou comunitária. Eis a essência do anúncio cristão. Evangelizar, mais que levar Cristo a quem não O teria, significa ajudar, principalmente pelo testemunho da fé e do amor, para que O veja, O descubra em sua vida, em sua história; na vida e na história da humanidade, da criação e assim O ame e O siga, como o “Deus conosco”, todos os dias, até a consumação dos tempos. É o que a Igreja exclama e proclama todos os dias na saudação inicial da Missa: “Ele está no meio de nós!”.


3. A universalidade do Reino de Deus começa a marcar presença (At 1,1-11)

Nos Atos dos Apóstolos, Lucas mostra o como e o quanto o “Ide, pois, e fazei discípulos...” ia acontecendo numa caminhada de encarnação no mundo e na humanidade do oriente para o ocidente, de Jerusalém até Roma; mostra, também o quanto os discípulos comungavam jubilosos da presença real de Jesus em todas as regiões e povos por onde passavam. Uma presença de dimensões universais, ecumênicas, cósmicas. Ao subir ao Céu, uma nuvem subtraiu Jesus das vistas dos discípulos. A nuvem indica este mistério. Ela, simultaneamente, esconde e manifesta; diz presença e ausência, ao mesmo tempo. O céu e a terra, o divino e o humano, desde que nossa carne subiu ao céu no corpo exaltado de Jesus Cristo ressuscitado são um: o Corpo de Cristo crucificsdo-ressuscitado.

Por isso, a esperança cristã é mais do que mera expectativa, pois enquanto essa imobiliza, a esperança nos reenvia de volta para o mundo, para os homens, para a terra, para anunciarmos o Evangelho, por nossas vidas, nossas palavras e nossas obras, guiados pelo Espírito Santo, e certos da presença velada de Jesus entre nós todos os dias até o fim do mundo. Essa é, também, a ordem dada pelos dois homens vestidos de branco que apareceram aos apóstolos: que deixassem de olhar para o céu, descessem da montanha e voltassem à planície do seu cotidiano a fim de dar início à missão da qual e pela qual acabaram de ser ungidos pelo Senhor.


4. A autoridade de Jesus está acima de toda Autoridade (Ef 1,17-23)

O amor de Cristo é tão fervoroso que se estende também para as criaturas do Pai que habitam o céu. A soberania universal de Cristo, é vista e celebrada hoje, de modo especial, na segunda leitura (Ef 1,17-23). Nela, mostra-se como a Autoridade de Jesus está acima de toda Autoridade, Poder, Potência, Soberania celeste. Ela abraça e cuida não só dos mortais, mas também dos imortais. Não só dos terrenos, mas também dos celestes. Enquanto detém essa autoridade universal, que reúne o cosmos visível e invisível, Jesus é a Cabeça, isto é, o Princípio que rege tudo, no vigor e na autoridade da caridade. E a Igreja, que reúne terrenos e celestes (os bem-aventurados, os anjos), é o seu corpo. Cabeça e corpo formam uma unidade indissolúvel. Ambos formam uma comunhão total de vida e de destino.

Cristo, que é plenificado por Deus, plenifica a Igreja, que é o seu Corpo. A unidade indissolúvel de Cristo e Igreja, Cabeça e Corpo, nos dá a garantia de que a entrada de Cristo nos céus é o penhor de nossa própria entrada, pois nós somos membros do seu corpo; o destino de nosso Chefe (Cabeça) será o nosso próprio destino: estar “à direita” do Pai pelos séculos dos séculos. Eis a Boa Nova levada ao sumo, a alegria, o júbilo e a coragem de todos nós que caminhamos na terra, em meio às batalhas do cotidiano e da história. A extensão e o brilho característico desse Reino é contemplado por São Paulo no famoso hino da “kénosis” (despojamento) de Cristo (Cf. Fl 2, 5-11).


Conclusão

A solenidade da Ascensão dá o encaminhamento do mistério da universalidade, da catolicidade do Cristianismo, da Igreja, que se manifestará em sua plenitude no dia de Pentecostes. Não um universalismo imperialista, do tipo de uma globalização excludente, totalitário, mas, serviçal, fraterno, movido pelo não-poder da humildade, da cruz.

Jesus conhecia muito bem a fragilidade da fé não só dos apóstolos, mas também de todos os seus seguidores, inclusive da nossa. Por isso, termina todo seu Evangelho com esta auspiciosa notícia: “Sabei (“não esqueçam”, “não duvidem, jamais”), que estou convosco todos os dias até o fim do mundo!” Por isso, todo fiel ou Comunidade que não se assentar Nele, nessa sua presença, dificilmente sobreviverá como tal. Pois, se não professamos Jesus Cristo, nos converteremos em uma ONG piedosa, não em uma esposa do Senhor (Papa Francisco).

Na verdade, precisamos reconhecer que durante séculos, a Igreja, nós, fomos pouco crísticos e pouco evangélicos. E, por isso, pouco evangelizadores. Para ajudar-nos a sair dessa situação, o papa Francisco, pede que olhemos e sigamos São Francisco de Assis, sua vida, exemplos e espiritualidade. Ele que foi um “Homem inteiramente católico (universal) e apostólico”, “um outro Cristo”, o “Homem do Milênio”, estabeleceu para si e para seus frades que deviam começar e viver sempre: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!”; que “a Vida e o Evangelho de Jesus Cristo” devia ser a Regra e a Vida deles e de todos os seus seguidores (RNB).

Além do mais, esse Santo, a exemplo de Jesus, gostava e costumava congregar os frades em santos capítulos para depois enviá-los dois a dois, dizendo-lhes: ‘Ide, caríssimos, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados; sede pacientes na tribulação, confiando que o Senhor vai cumprir o que propôs e prometeu. Aos que vos fizerem perguntas respondei com humildade, aos que vos perseguirem abençoai, e aos que vos caluniarem agradecei, porque por meio disso tudo nos está sendo preparado um reino eterno’. E, recebendo o mandato da santa obediência, com gáudio e muita alegria, eles se prostravam suplicantes diante de São Francisco. Ele os abraçava e dizia com ternura e devoção a cada um: ‘Põe teus cuidados no Senhor e ele cuidará de ti’ (1C 29).

Essa experiência, certamente, é o que motivou a escrever duas belas e exemplares passagens. A primeira diz respeito ao modo de ir pelo mundo: “não entrem em litígios, nem em brigas de palavras vãs, nem julguem os outros. Mas sejam brandos, pacíficos e modestos, mansos e humildes, falando honestamente com todos como convém” (RB 3, 11b-12). A segunda diz respeito ao modo de ir “entre os sarracenos”: “Não entrem em litígios nem em contendas, mas sejam súditos de toda humana criatura por causa de Deus e confessem serem cristãos” (RNB 16, 6).

Fraternalmente,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm

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